A praga dos “famosos” domina a televisão
Se uns têm profissões ligadas ao espectáculo, outros são famosos só por serem famosos, construções dos próprios media, para atrair espectadores e encher tempo e espaço em programas de entretenimento, entrevista, palhaçada, brincadeira, conversa.Estão por todo o lado – até num programa sobre cães, ‘A Estrela Lá de Casa’ (RTP 2), porque cães interessantes só mesmo os dos famosos. Algures no cabo, há experiências paranormais de famosos, porque são decerto mais paranormais do que as das pessoas comuns.
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Num programa, a RTP 1 reduziu a História a antepassados de conhecidos; naturalmente, todos descendem de reis, ou não fossem eles reis do ecrã. Os talk-shows ‘Herman 2013’ e ‘5 para a Meia-Noite’ (RTP 1) ou ‘É a Vida, Alvim’ (TVI) vivem dos conhecidos no sofá, num modelo comum em todo o mundo. Em ‘Feitos ao Bife’ (RTP 1), os conhecidos fazem palhaçada e também compõem o júri, como em ‘A Tua Cara Não Me É Estranha’ (TVI). Em ‘Vale Tudo’ (SIC), mais palhaçada e brincadeira de famosos. Já ‘Alta Definição’ (SIC) serve para os conhecidos poderem chorar.
Os talk-shows matinais e vespertinos alimentam-se de famosos e alimentam-nos. Em ‘Fama Show’ (SIC) espraia-se a frioleira de famosos, com banalidades que adquirem “valor” por serem de famosos e a TV as tornar “importantes”. O ‘Big Brother’ começou com anónimos, mas alguns tornaram-se famosos profissionais e a TV logo os substituiu por pré-famosos nos ‘BB Celebridades’, ‘1ª Companhia’, ‘Perdidos na Tribo’ e agora no ‘BB VIP’. Há pseudo reality shows com nome de famosos, como umas tais Kardashians.
Esta praga é um passatempo como qualquer outro, mas não nos ajuda a sermos melhores. Se não anula, diminui o interesse da TV por programas com mais conteúdo e mais enriquecedores do que as emoções, as festas e as férias dos conhecidos. O interesse desloca-se do trabalho, do estudo, da criatividade e dos conseguimentos de vida para a privacidade e personalidade de pessoas que na maioria não têm nada para nos ensinar. Passámos da era das estrelas para a era dos cometas e dos asteróides, calhaus que percorrem o ecrã e desaparecem ou se estatelam no chão.
Do outro lado do ecrã, está a celebridade como indústria, com a sua economia, transacções de produtos e de dinheiro. Na maioria dos casos, cria-se a ilusão de os famosos merecerem realmente a fama que têm, mas essa fama é produzida como latas de salsichas, só existe enquanto os canais de TV quiserem. Na verdade, os verdadeiros famosos são os canais de TV.
Crónica de Eduardo Cintra Torres no Correio da Manhã
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