Analise do Rui Sinel de Cordes dos concorrentes do Secret Story 4

Caro Marco. Concordo com o seu ponto de vista e acho que tem toda a razão. Não se deve julgar um livro pela capa e muito menos uma pessoa sem a conhecer. Mas da mesma maneira, não podemos ser idiotas. Sejamos portanto muito muito francos e analisemos os factos como são, friamente e sem tretas.

Neste caso, já não há qualquer margem para dúvidas. Ao fim de sabe-se lá quantos “big bordéis”, “casas de chulice, vaquedo e companhia”, e tantos outros espectáculos decadentes nos quais o canal em causa é especialista, já todo e qualquer português deveria saber o que a “casa gasta”. O roteiro nunca mudou, não é agora que vai mudar.

Estes programas falhados em conteúdo mas óptimos para audiências (muito à conta daquele português sem aparente vida própria, que prefere a risada fácil e o comentário mordaz ao comportamento de estranhos que nunca viu mais gordos) facultam a sucessão de programas deste tipo, cada vez mais cadavéricos em conteúdo e propósito outro que não o lucro fácil e a criação de uma sociedade acéfala.

Talvez devido à replicação de comportamentos e reacções semelhantes ao observado na plateia generalista destes programas, o país se apresente no estado em que está actualmente. Com franqueza, apenas num país com uma população completamente desprovida de claras e reais prioridades e sentido de dever, um programa destes poderia ter uma percentagem de visualização largamente superior aos resultados das eleições. Não são nada a não ser uma amostra do que acontecerá nas legislativas e que, com maior ou menor independência relativamente à troika, regulará a nossa vida pelos próximos 4 ou 5 anos.

Coisa pouca, portanto, não lhe demos importância e vamos mas é todos ver a “casa dos degredos”, isso sim, verdadeiro bastião dos valores, história e futuro deste nosso país e gerações futuras.

Tenho quase a certeza que não falharia muito se afirmasse que mais gente viu a estreia da casa dos segredos, que o número de pessoas que foram às urnas.

Mas estamos a desviar-nos do tema. O que interessa analisar aqui é a decadência que o programa garantidamente irá ter e que daqui a umas semanas poderá comprovar por si mesmo, o que não desiludirá dado que é o que o tal canal espera e garantirá que acontece.

Isto porque sinceramente, ninguém é estúpido e como tal, tanto eu como o Sr. Marco e como qualquer pessoa, todos sabemos que o sexo e violência, seja qual o tipo, vendem. E os produtores sabem disso, e os produtores querem isso e os produtores vão fazer por isso. Portanto não nos enganemos a nós mesmos, poderíamos colocar ali santos na verdadeira concepção da palavra, que o resultado seria um autêntico massacre ético, ideológico e moral de tudo o que essas divindades representariam.

Tudo em nome das audiências. Porque bom comportamento, atitudes correctas, louváveis mesmo e esforço sincero em criar algo de bom e útil não chamam a atenção das massas. Não quando estão todos de barriga cheia, bem tratados e sentados no sofá a ver estes pedaços de decadência ocidental.

Como podemos não ser um país cada vez mais obeso quando o canal em que tal show é passado está fartinho de nos enfiar pela goela este tipo de programas, como que a inchar fígado de ganso para “Foie-gras”. Podemos também e já agora, aproveitar a morte do ganso para extracção do dito como a machadada e morte lenta que damos nos nossos valores, princípios e ética em cada vez que pegamos no comando para ver mais uns minutos deste programa.

Não me interprete mal, acho que estes programas devem existir, pois francamente, são uma maneira de avaliar o estado e maturidade de uma sociedade. Tenho no entanto pena que a sociedade portuguesa mostre dar passos largos atrás de cada vez que um novo concurso destes estreia, visto as escolhas e o espectáculo serem cada vez mais deprimentes a cada novo programa.

Com isto, quero dizer que não acredito que as pessoas em causa sejam tão estúpidas como aparentam ser, porque se existisse mesmo alguém assim tão estúpido na vida real, a propagar os seus genes, a humanidade há muito que estaria extinta. Mas como disse, os produtores querem e vão fazer por terem um espectáculo que venda. Porque há dinheiro a circular e infelizmente, dinheiro é sempre bom ainda mais numa época como a que atravessamos.

E os concorrentes não são estúpidos nenhuns para não saberem que a “fama” que terão com isto durará um ano, talvez pouco mais e daqui por dois ou três anos ninguém se lembrará deles. Portanto e com pena minha, mas há que admitir que por esse parco dinheiro que conseguem, estão dispostos a prescindir de princípios, valores, moralidade, em suma, daquilo que provavelmente os pais tanto fizeram por lhes incutir, de modo a torná-los verdadeiros membros activos, participativos e capazes de viver e mudar a sociedade em que se inserem, de modo a torná-la melhor para si mesmos que aquela que os seus pais encontraram.

Com isto, não digo que não gosto de uma festa de vez em quando, que não fiz as minhas asneiras em novo, que não fiz coisas menos próprias, mas tive sempre a cabeça no lugar e sabia bem quando estava frente a uma linha que não deveria pisar. E tudo o que fiz, foi na altura certa, no seu momento, e vivi esses momentos. Mas sempre com consciência e com a educação que tão bem me foi incutida presente. E com isso cresci e tornei-me um membro da sociedade que respeita, que critica o que está mal e que se levanta todos os dias com vontade de fazer mais, de tornar a sociedade portuguesa um pouco melhor porque ainda acredito que há coisas pelas quais vale a pena lutar nesta sociedade, apesar destes programas fazerem o possível e impossível por demonstrar o contrário. E este não será diferente.

Mas vou continuar a levantar-me de manhã.

Cumprimentos e fico-lhe desde já grato por, apesar do programa certamente vir a provar, correcta ou manipuladamente, que as pessoas que foram escolhidas vão ser muito fracas amostras de seres humanos, não foi uma pessoa que entrou cegamente a dizer que o programa é que era bom e que todos estavam errados em fazer a piada que foi feita, apoiando o seu argumento com um ponto válido, o de que não se deve julgar alguém sem o conhecer. Simplesmente o problema aqui não é o conhecer ou não as pessoas, mas sim o formato do programa nos moldes que já se conhecem.

Em todo o caso, aproveito também para referir que o que comentou, que ambos comentámos, é apenas humor fácil e gratuito, derivado de comentários que até o Sr. certamente admite, foram muito fracos e tristes por parte dos concorrentes. É apenas humor e é dessa forma que deve ser visto. Nada mais.

Atentamente.