Joana Barrios escreve carta a Cristina Ferreira.. e responde se «vai com ela»
Joana Barrios escreveu uma carta para Cristina Ferreira e veio responder a todos o que perguntam «vais com ela»?
“Em resposta à pergunta “VAIS COM A CRISTINA?”, eis a minha resposta um pouco barroca, eu sei. Xs portuguesxs são muito nostálgicxs e têm muita dificuldade em aceitar mudanças. Por força da minha criação, mudanças e eu é tu cá tu lá. Talvez por isso aquela parte da instabilidade da profissão que escolhi não me tenha assustado muito na hora de escolher mesmo. Seja como for, também não sabia o que é que a Cristina andava a fazer, também fui apanhada de surpresa, porém não me surpreendi com essa fatalidade toda. Pensei antes “GRANDE!”. Já dissémos muitas vezes e é verdade, que temos um entendimento que vai para além do que é verbalizado. E quando soube da notícia liguei-lhe. E a Cristina contou-me. E eu dei-lhe os parabéns e fiquei muito feliz por ela. A Cristina não fica a lamentar o que não fez, não fica com saudades do que foi, porque quando se dá já ter sido, ela sabe que fez e deu o seu melhor. #unapologetic. Há muitos anos escrevi um texto sobre ela, quando ainda não a conhecia, e chamei-lhe it-girl. Continuo a vê-la como essa it-girl e o que fiz no final de tarde de 17 de Julho foi o seguinte: tinha estado a testar uma luz com o meu Marido, que ele tinha um trabalho grande e queria ver se a ideia que tinha para a luz era materializável. Eu sou a sua cobaia de luzes, por isso, fomos assim mais ao fim da tarde para o local certo, com xs miúdxs. Quando terminou o teste de luz, fizemos a piada do costume: “olha, já tens alto post para hoje” e eu ia consultar o telefone para combinar coisas familiares quando vi uma mensagem da minha cunhada a perguntar se era verdade. Parámos num café para comprar águas porque xs criançxs estavam com sede e eu comprei duas minis para nós. Brindámos à Cristina, à sua audácia e ao seu sucesso. Porque é genuinamente o que sinto por ela. A vida nessa sexta-feira decorreu como habitualmente e depois de encerrada a sessão de afazeres domésticos, quando finalmente me sentei depois da cozinha arrumada, pensei que “se calhar, neste segmento que tanto adoro da minha profissão, sou capaz de estar parcialmente desempregada”.
Mais do que resposta à curiosidade sobre se vou ou não com a Cristina (ser superior que se sobrepõe a qualquer instituição, sendo ela uma instituição) e a minha condição profissional que tanto vos tem preocupado, vamos então falar da condição de grande parte das pessoas que, como eu, trabalham nas artes performativas sem contrato. Caso não saibam, nas artes performativas também se inclui o universo televisivo, que por chegar a tanta gente pode às vezes dar a ideia de que uma pessoa vive em condições incríveis. Porque se “aparece na televisão”, a vida está garantida e encaminhada, e assim. LOL. Assumem-se muitos riscos nestas profissões. Riscos esses que serão eventualmente compensados com a visibilidade e a oportunidade de mostrar que se é boa profissional e que isso trará mais trabalhos, o reconhecimento dxs nossxs parxs e/ou do público. Num mundo ideal era assim. Mas não vivemxs nesse mundo, o estatuto profissional do Artista continua à espera de se tornar realidade e por muito que custe, a culpa da precariedade não é da Cristina. Relativamente à Cristina, tenho-lhe brindado todos os dias. É assim que faço a todxs xs amigxs que cumprem os seus sonhos, realizam as suas ambições e chegam onde se propõem chegar. A Cristina é das poucas pessoas com quem trabalhei nestas coisas mais mainstream que nunca me disse que tenho de mudar e que sabe o nome de todas as pessoas que estão no platô, por exemplo. Também é das poucas que se preocupa com a precariedade e que encontra formas de maximizar o ganho, minimizando o risco sempre que pode e como pode. A Cristina tem todas as qualidades, honesta e gaiteira, como na múisca do Telmo Miranda. E agora foi cumprir novos desígnios, envoltos em grande mistério (just like all legends do), que já fizeram correr mais tinta esta semana que a indústria de fast fashion terá vertido ilegalmente em cursos de água doce nos últimos dez anos.
Posto tudo isto, é evidente que vou com a Cristina para onde ela for, da mesma forma que ela também vem comigo para onde eu for, porque nestas profissões é assim: os laços que se criam ficam para sempre e ficamxs felizxs com o sucesso alheio.
«O que a vida junta nenhum projeto separa. Qualquer pessoa que nos viu sabe que “ias” com a Cristina. É assim o amor ♥️», respondeu Cristina ferreira.
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