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Sara Barros Leitão diz que é “testemunha” do assédio a Sofia Arruda e há mais vítimas

Sofia Arruda no ‘Alta Definição’ do passado sábado, 17 de abril, está ainda causar reações, principalmente devido ao assédio sexual de que ela foi alvo.

Wanda Stuart, conhecida cantora, reagiu ao polémico caso: «E eu sei quem é essa pessoa… Mas tu és linda e maravilhosa e continuaste a trabalhar… ao contrário dessa pessoa, que desapareceu do mapa…», escreveu na caixa de comentários do Facebook de Sofia Arruda. (aqui)

Agora é a Sara Barros Leitão a reagir, “Acabei de ver a entrevista e não fiquei surpreendida em nenhum momento. Foste como és: inteira, total, imensa, honesta, generosa. Que sorte tem quem te tem perto. Deixo tudo o que tenho para te dizer para as nossas conversas, que, por força da vida, são cada vez mais espaçadas, mas que nem por isso deixam de ser cheias de sinceridade, sororidade e admiração”, começou por escrever.

“O que a Sofia disse na entrevista é de uma coragem impossível de caracterizar. A Sofia começou a trabalhar com 11 anos na indústria televisiva, eu comecei aos 16. Encontrámo-nos no fim das nossas adolescências e foi uma amizade como um íman. Também eu cresci a ver a Sofia na televisão e, quando a conheci, foi impactante para mim. A Sofia tinha uma maturidade fora de série e um profissionalismo indescritível”, continuou.


“Há quem tenha medo que o medo acabe, escrevia Mia Couto. E sei que, também nós, temos medo do que pode vir aí. Temos medo de ouvir nomes de amigos e amigas, de pessoas que gostamos. Temos medo de perceber que tudo aconteceu debaixo dos nossos olhos e que fomos nós que escolhemos não ver. Temos medo das represálias se nos posicionarmos em solidariedade”.

“Tal como não sabemos as vidas das vítimas, também não sabemos as vidas uns dos outros. Nem toda a gente irá querer falar publicamente, nem toda a gente se quererá posicionar em solidariedade, nem toda a gente está, sequer, no momento de o poder fazer. Respeito todas as decisões. Contudo, todas e todos sabemos do que estamos a falar. Sabemos que o assédio hétero e homossexual existe no nosso meio“

“Pela minha parte, posso dizer-vos que todas as pessoas que quiserem falar terão a minha maior solidariedade e que poderão contar comigo. Às vezes temos mais medo do que aquilo que na realidade acaba por acontecer”.

“É possível que isto leve a uma grande reviravolta na forma como a nossa indústria está habituada a operar. Mas se todos sabemos como isto está podre, não era até bom que assim fosse? Há outras formas de trabalhar, há outras formas de produzir, há outras formas de se relacionar, há outras formas de chefiar. Exijamos isso”.

“Quando uma mulher conta uma experiência como esta, a primeira coisa que devemos fazer é não duvidar dela. Essa dúvida não deve ser alimentada pelo facto de a pessoa ter demorado anos a falar. Uma experiência de assédio não prescreve. Vive no corpo da vítima até à sua morte. Nem todas as pessoas conseguem reconhecer imediatamente o assédio. Nem todas as pessoas têm uma estrutura pessoal, mental, emocional, profissional para o denunciarem. Nem todas as pessoas conseguirão, alguma vez, denunciá-lo. E a prova de que a sociedade não está preparada para apoiar as vítimas demonstra-se precisamente neste tipo de comentários machistas, sexistas e misóginos de desvalorização da experiência”.


“Não caiamos na tentação colectiva de pedir que a pessoa diga o nome do agressor. Primeiro: não precisa. A vítima só deve contar até onde estiver preparada para contar. Não é o facto de haver um nome que irá alterar o que aconteceu. Segundo: apesar de o nome não ser público, pelo menos por enquanto, não significa que não se saiba quem é. Como dizer isto de forma clara? Toda a gente no nosso meio sabe quem é. De colegas a equipas, de canais a comunicação social.”

“É possível que a entrevista da Sofia ainda não seja o gatilho que vá espoletar o movimento #metoo em Portugal. Mas teremos de chegar lá um dia. A história da Sofia é real, sou dela testemunha. Conheço outras. Conheço muitas. Não desanimemos se ainda não for desta. Acima de tudo, peço-vos para não descredibilizarem qualquer relato que entretanto surja, com o argumento de que ‘vem a reboque’, ou que ‘passou demasiado tempo desde a primeira pessoa a denunciar, porque é que não falou logo?’. Volto a repetir: as pessoas têm o seu tempo e o seu momento“.

 

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