Manuel Rocha, antigo diretor de informação da RTP e marido de Fátima Campos Ferreira, faleceu no passado domingo, 12 de fevereiro, aos 75 anos de idade.
Mário Augusto, jornalista da estação pública, prestou a sua homenagem no Facebook: “Estou solidário na dor da Fátima, já lhe dei o meu abraço. Quando parte alguém com quem nos cruzamos e teve (como outros mais à frente) uma importância vital no balanço que fazemos do início da carreira, manda a consciência e respeito que se grave esse nome na nossa eternidade“.
“Podia contar mil histórias do meu início na televisão, qual delas a mais curiosa e divertida, algumas incertezas num tempo em que se aprendia fazendo, aproveitavam-se todos os momentos de oportunidade e os mais velhos, os que nos davam essas chances, eram uma espécie de olheiros atentos e mestres, sempre prontos para o raspanete, vindo da deferência obrigatória, mas eram alguns desses, também os mais disponíveis para puxar por nós e dizer: Vamos apostar em ti”, prosseguiu.
“Enfim, outros tempos em que as escolas de jornalismo ainda não tinham aberto as portas da saída aos primeiros formados na profissão, deixando de haver tempo a perder com as novas fornadas que chegavam em grupos grandes às redações. Ainda hoje quando penso nesses anos cada vez mais longínquos, surpreende-me a capacidade de arriscar dos que deram esse ensejo aos mais novos, verdinhos, inocentes e entusiasmados. Cada momento era como o teste, o exercício que dava a nota, o exame que permitia passar para um novo campeonato profissional”, acrescentou.
“Quando eu comecei, foi para mim um mundo novo a fazer televisão, vivi circunstâncias e episódios que contados poderiam dar um filme. Valeu a resiliência, também um certo entusiasmo naïf, nunca desistir depois de um convite para fazer uma rubrica de cinema no programa da manhã. Foi uma aventura entre meados de 1985 e a estreia em Abril de 1986, um ano a penar para não deixar escapar a hipótese de experimentar fazer. Deixo essa história divertida para – talvez – contar um dia porque já não se fazem carreiras assim. Terei sido um dos últimos moicanos de uma tribo que já não se reúne e treina de igual forma. Faço este contexto para enaltecer o papel de alguém que desapareceu ontem e que foi em parte responsável pela carreira de muitos que começaram a fazer televisão na década de 80 do século que já lá vai“, recordou.
“Houve um nome essencial que hoje recordo com tristeza porque partiu, o Manel Rocha, a ele devo a oportunidade de começar a fazer reportagens na redação da RTP Porto, eu já andava por lá a falar de cinema na produção dos programas. Ao Manel devo a oportunidade de ter começado a fazer reportagens, a apresentar o BOM DIA em 1989…por exemplo ainda me lembro de em 1991 lhe ter entrado pelo gabinete dentro a sugerir que me deixasse ir a Los Angeles fazer a entrega dos Óscares. Ele não só deixou como disse: ‘Boa ideia. Trate disso, falo já com o Zé Eduardo (Moniz) …e lá fui, não me desabituei mais dessas andanças’. Foram anos importantes para mim e o Manel Rocha (e outros, mas é ele que hoje quero celebrar) reconheceu no meu entusiasmo a vontade de fazer disto a minha vida e apoiou, sem cunhas, sem pressão só por acreditar nessa minha vontade e por sempre ter apostado em gente jovem. Poderia aqui contar muitas histórias, fomo-nos separando, mas com grande respeito e estima mútua que lhe dava orgulho”, referiu.
“Ele não perdoou a minha saída para fundar a SIC em 92 mas sempre que nos encontrávamos era um abraço sentido que dávamos e ele dizia-me sempre a rir: ‘Não se esqueça que fui eu que lhe dei oportunidade de ser quem é’…“, confessou. “É verdade. Devo-lhe isso, a ele e à equipa dele da altura, onde estava a Judite de Sousa o Zé Cruz, Marques Rocha entre outros. Bem vistas as coisas, o Manel Rocha teve olho e agradeço (…)”, confirmou.
“A Fátima Campos Ferreira (desde há muitos anos a companheira do Manel Rocha) era quem lhe levava hoje o nosso abraço, sempre que a encontrava nos corredores da RTP, além de nos lembrar-mos das velhas historias dos estúdios do Porto, eu acabava sempre a perguntar por ele, há muito reformado: – “Manda lá um abraço ao Ti Manel…”. (…) Era o chefe da banda onde tocávamos, às vezes irreverentes e desafinados, mas ele achava que um dia poderíamos ser solistas. Alguns foram e em parte a ele o devem”, rematou.