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José Carlos Malato “é um apresentador que trata as pessoas com doçura, mas é violento quando não está a trabalhar”

Quem o diz é Luís Osório.

José Carlos Malato é um dos mais recentes protagonistas da rubrica ‘Postal do Dia’, de Luís Osório, no Facebook e na TSF.

“José Carlos Malato é um aparente paradoxo. Por um lado, é um apresentador que trata as pessoas com doçura, que é bom para elas, que as olha com surpresa e um genuíno espanto pelo bom que conseguem, mesmo que seja um bom muito pequenino ou muito relativo. É talvez a pessoa que melhor o faz em televisão. Com cultura, com humanidade e com carinho pelos outros. É um tipo que não é plástico, que ri como as pessoas normais riem, que nos faz as perguntas que as pessoas na vida nos podiam perguntar, que nos ajuda a compreender oferecendo-nos contexto e proximidade, apesar de existir para a maioria de nós apenas dentro da televisão”, começou por escrever.

Mas por outro lado, Malato é violento quando não está a trabalhar. Nas suas redes sociais deixa sempre troco a quem o critica, não admite que lhe toquem em zonas sensíveis, que o tentem humilhar, que façam humor à conta das suas falhas, fragilidades ou contradições. Aparentemente são duas pessoas numa: terno e bonito quando está a trabalhar. Mas depois, na solidão de quatro paredes, matutando sobre o que dele dizem, é agressivo, talvez até desajustado na violência com que reage“, prosseguiu.

“Como explicar isto? Tantas vezes torna-se difícil entender certos comportamentos, mas neste caso não me parece que seja um tema complexo. As suas reações são mais do que compreensíveis. Vemo-lo nas duas ou três entrevistas em que aceitou falar de si e dos seus abismos e tudo passa a fazer sentido. O José Carlos Malato era uma criança e foi um jovem, mas na escola nunca foi tratado como um miúdo normal. Foi humilhado. Os colegas faziam-lhe esperas, ameaçavam-no, obrigavam-no a ir à baliza e rematavam várias bolas ao mesmo tempo para lhe acertar. E gritavam-lhe no recreio… Gordo. Paneleiro. Nojento. Nos autocarros apalpavam-no. Ao chegar à escola, nos períodos mais críticos, vomitava de medo“, argumentou.

“O José Carlos contou isto. E era Testemunha de Jeová, o que piorava as coisas. Houve um tempo em que se punha em frente ao espelho para treinar os gestos, para não ser uma menina, para ser um rapaz forte, chegou a treinar ao espelho movimentos de jogador de futebol ou a beijar meninas para que os rapazes vissem que ele era normal. Noutras vezes, imaginava que podia ser o Batman ou o Homem Aranha, imaginava que um dia, por um qualquer milagre, iria tirar a roupa e rebentar de porrada aqueles atrasados mentais com o seu fato de Super-Herói. Anos e anos e anos nisto. Anos e anos a levar porrada, a ser escarrado e gozado. E a ir para os braços da irmã; era a única que sabia. Anos e anos a passar-lhe pela cabeça que se calhar o melhor era ir embora, partir daqui e levar a culpa e a vergonha“, acrescentou.

“Não o fez. Tornou-se adulto. Abriu caminhos, tornou-se uma estrela, uma das estrelas mais populares em Portugal. Teve a sua pequena vingança, mas o que sofreu continua a ser o que sofreu, continua a estar dentro do que é, não tenho a mais pequena dúvida disso. E o que teve de assumir foi inimaginável. Um pai e uma mãe conservadores que ele não desejava magoar, um pai e uma mãe que viviam na ideia de que só alguém sem culpa, sem mácula se podia salvar no dia do Juízo Final. Um pai e uma mãe que não compreenderiam que o seu único filho homem fosse um pecador aos olhos do seu Deus, um filho perdido. Mas o Malato assumiu com coragem. E para mim deixou de existir assunto, paradoxo, ruído ou contradição. O Malato é um dos meus apresentadores preferidos, um tipo que eu confiaria em absoluto se fosse diretor de um canal qualquer, a violência com que reage só pode incomodar quem não conhece o seu contexto. Afinal, está apenas a ser autêntico. Depois de uma vida de humilhações é mais do que natural que não queira ser maltratado. Depois de tantos anos em silêncio, depois de tanta angústia, depois de tudo o que passou, o José Carlos Malato decidiu não calar mais. É injusto no que escreve e no modo como reage? Algumas vezes sim, mas mais vale sê-lo do que ficar calado“, rematou Luís Osório.

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