Carlos do Carmo, antigo inspetor da PJ, comentou o caso Miguel Bravo no Linha Aberta da SIC.
Começou por dizer, “antes de mais, deixe-me dar os parabéns à mãe, que estava atenta, os pais devem estar atentos à utilização dos meios tecnológicos que os filhos de terra idade, de menor idade, normalmente utilizam…”
“E estava atenta e conseguiu fazer aqui um trabalho espetacular, fazendo-se passar pela filha, conseguiu indícios de prova suficientes que levaram à atuação da PJ. Agora, eu não vejo aqui, em termos de molduras penais, grande hipótese para o juiz de instituição criminal poder aplicar medidas de coação mais eficazes, porque o arguido tem 21 anos, provavelmente é primário, ao crime mais grave corresponde uma pena não superior a 5 anos de prisão, eventualmente agravada…”, continua a dizer o antigo PJ.
Hernâni Carvalho lança então para cima da mesa o ‘cumulo jurídico’, e este explica, “ainda é cedo para falarmos de cúmulo jurídico, não é? Estamos em investigação, estamos no início, mas repare uma coisa, quando se fala de abuso sexual de crianças, é preciso aqui explicar às pessoas que não houve atos sexuais de relevo em contacto físico, foi apenas à distância, a criança foi assediada por este indivíduo, por este arguido, e houve troca de mensagens e de vídeos explícitos, mas não houve, ao que se sabe, ainda vídeos sobre o corpo dela, o corpo da criança, enviado ao arguido. Portanto, o que há é, na parte do arguido, uma tentativa forte, diria mesmo quase coação sexual, no sentido de que ‘ou me envias fotografias do teu corpo, ou então eu vou divulgar aqui na aldeia o que é que se está a passar’. Portanto, isto é uma forma de coação sobre a criança”.
Contundo, a mãe da jovem garante que a filha já tinha enviado vídeos e fotografias ao cantor. Maria Cunha Louro – Psicóloga Forense, dá conta que isto é muito difícil para a mãe ultrapassar.
“É muito, muito difícil. O abuso sexual, ou seja, com ou sem toque, deixa marcas na vítima, nas vítimas, na família, nas famílias envolvidas. E, portanto, é um processo que é muito complicado porque é a própria família que tem que lidar exatamente com a informação, tem que continuar a apoiar nomeadamente crianças, quando elas relatam, e como nós sabemos, muitas vezes levam muito tempo, portanto, a relatar o abuso, a partilhar o abuso, mesmo com pais que se sentem muito à vontade, podem conversar sobre muitas coisas, mas muitas vezes a partilha da história do abuso nem sempre é fácil, como sabe, há pessoas que levam anos a conseguir partilhar realmente essa história”, começa por explicar.
SE HOUVER UMA ALTERAÇÃO AO COMPORTAMENTO
“Relativamente às crianças, é que uma sugestão que dou aos pais é que, de facto, se houver uma alteração do comportamento, e aqui houve, de facto, houve aqui uma alteração, portanto, era uma aluna com notas, portanto, bastante razoáveis, pelo que percebi, alteração e ninguém conseguia perceber o porquê, e ninguém conseguia perceber o porquê. E, de facto, a alteração comportamental, muitas vezes, está de mão dada, digamos assim, com alguma coisa de errado que se está a passar na vida daquela criança ou até daquele jovem, nomeadamente problemas de sono, medos noturnos, terror, alterações de sono, isolamento social, alteração, nomeadamente, comportamental, exatamente, alimentar, escolar, social. Muitas das vezes não há uma partilha do ponto de vista verbal do sofrimento em que a criança ou o jovem está. Muitas vezes esse sofrimento manifesta-se exatamente na alteração comportamental e o silêncio só beneficia o ofensor.
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