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A emocionante carta de Marquinho, o afilhado de Marco Paulo

"Descansa no colo, nos braços da tua mãe. Amamos-te muito, amo-te muito, padrinho"

Marco Paulo faleceu na passada quinta-feira, 24 de outubro, aos 79 anos de idade, vítima de cancro.

A revista TV Mais desta semana revela o conteúdo da carta escrita pelo afilhado Marco António (Marquinho) e lida por Ana Marques no funeral de Marco Paulo, no passado sábado (26), na Basílica da Estrela, em Lisboa.

“O que dizer na despedida? Há muito e não há nada porque falámos sempre de tudo. Fomos sempre dizendo o que sentíamos. Amor, admiração, amizade, cumplicidade. Partilhámos medos, revivemos memórias, antecipámos lágrimas, demo-nos força. Dissemos sempre muito, porque ensinaste-me que quando gostamos, amamos, devemos dizer que amamos, sempre. Mas há muito para dizer ainda. Parece-me agora que ficou por dizer amo-te, mais uma vez. Para dizer o que és para mim. Que és tudo para mim. Eu sou tudo por ti. ‘Tenho medo de te perder’, disseste um dia. ‘Eu também tenho medo de te perder’, respondi com os olhos ensanguentados de lágrimas. E ficámos em silêncio. Tu limpaste as minhas lágrimas, como fazias quando eu era criança e caía no chão da casa.

Aprendi contigo que os laços de amor fazem uma família, que uma união forte de amor faz uma família. E sempre foste amor. Homem que amava, que ensinava amor, que pegava no colo para adormecer a dor. És o meu padrinho, o meu segundo pai, que os meus pais escolheram para mim. E tu és uma estrela. Nos palcos, nos aplausos, nos sorrisos. No coração de todos os que tocaste com a música e as tuas canções, as tuas letras, com a tua voz. As tuas milhares de amigas e amigos que enchiam concertos, que te seguiam por onde andasses. Que te davam vida nos abraços, nos beijos e nas flores que te ofereciam. Gostavas de ser gostado, de ser admirado. E és. Gostavas de quem te recebia de braços abertos. De sorriso rasgado, de quem ria das tuas piadas. Gostavas de ser desconcertante. Gostavas das tuas gargalhadas e como elas te faziam bem. E gostavas de abrir as portas de casa para receber quem te alegrava os dias. Gostava de ti.

Sabes, padrinho, quando olhava para ti enquanto dormias nas últimas semanas, tive medo muitas vezes. Em silêncio, a dor de te perder, doía muito. E do nada acordavas. E parecia que sentias a minha dor enleada na tua. Dizias que nunci perdemos quem amamos. Que nunca perdemos o que vivemos com quem amamos. Sempre foste amor, porque o teu maravilhoso coração fez da vida a tua grande companheira. A doença era a vizinha má, quando batia à porta para entrar. E tu, com fé, determinação, força, expulsaste a doença várias vezes. Até agora.

E agora? Eu vou cuidar do meu pai, que fez dele as tuas lutas ao longo dos anos, que os desafios dele eram também os teus. Vocês os dois até pareciam irmãos. Gémeos. Vou ter saudades tuas. Já tenho. Não vais mais limpar as minhas lágrimas. Não vais pedir-me para te agarrar a mão, como quando agarravas a minha mão quando era criança. E não vais mais dar colo à tua Zuca. Nós cuidamos dela, está bem? ‘Tenho medo de te perder’, disseste-me às vezes. Não tenhas receio. Nunca nos vamos perder. É impossível. O nosso amor é grande. É do tamanho dos sonhos, da vida e do céu. Estás em mim, como não sabemos explicar. És o meu padrinho desde o primeiro dia, ainda nem eu sabia quem tu eras. És a pessoa, o homem, o amigo mais importante da minha vida. Estás em mim como sangue que me corre nas veias. És o meu exemplo de força, sobrevivência. És inspiração de amor, em amor. Descansa no colo, nos braços da tua mãe. Amamos-te muito, amo-te muito, padrinho.”

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