Cláudio Ramos abre o baú das memórias: “A televisão não era nossa. Era deles. Eram os pais que mandavam!”
"Sempre gostei de novelas, via muitas e quando estrearam as portuguesas ficava fascinado a querer perceber tudo..."

Cláudio Ramos abriu o coração e o álbum das lembranças numa partilha nostálgica no Instagram
O apresentador viajou até à infância, relembrando os pequenos rituais e grandes lições que o marcaram, da bolacha Maria com Planta ao Festival da Canção visto às escondidas.
“Quando era miúdo, comia bolacha Maria com manteiga. Apertava e a manteiga saía generosa pelos buraquinhos da bolacha. Às vezes, metia-lhe açúcar. Quando falo de manteiga, falo de Planta, que era a que se usava lá em casa e naquele tempo sabia lá eu a diferença entre Primor e Planta!”, começou por escrever.
O apresentador recorda ainda os domingos de infância, marcados por disputas televisivas com o pai, “Lembro-me de que odiava que o meu pai visse Fórmula 1 ao domingo, porque eu queria ver outras coisas, mas naquele tempo a televisão não era nossa. Era deles. Eram os pais que mandavam!”
Ainda confessa o fascínio precoce pelas novelas, uma paixão que, de certa forma, prefigurava o seu futuro na televisão, “Sempre gostei de novelas, via muitas e quando estrearam as portuguesas ficava fascinado a querer perceber tudo. A RTP teve uma chamada ‘Passerelle’, tinha de a ver às escondidas. O meu pai não achava graça, a sorte é que muitas vezes fugia para a casa do vizinho e via os episódios em reflexo no espelho de um móvel de loiça. Sentava-me no patamar das escadas e ficava ali quieto e calado a olhar para o móvel, na esperança que nem o meu pai chamasse-me, nem o vizinho mudasse de canal.”
Houve espaço também para pequenas revoluções infantis, “Fiquei chateado quando acabaram com a pastilha do Epá e nunca mais na vida comi um. Eles borrifam-se no assunto, mas para mim foi um gesto de manifestação pelos direitos do consumidor.” E, entre gargalhadas, uma lição que ficou para a vida, “Quando era miúdo, nunca ninguém me ensinou a andar de bicicleta. Ensinaram-me outras coisas, por exemplo, que ‘Palavra nenhuma volta para dentro da boca!’. Demorei a entender.”
No final, Cláudio Ramos fecha o círculo com a serenidade de quem olha para trás sem perder o brilho da memória, “já não como margarina, mas a minha mãe ainda compra Planta. Continuo a escutar os discos lá de casa. Não como Epá, mas devoro outros gelados. Já não vejo novelas como via. O vizinho já morreu. A vida seguiu. O sol está de abalada… Entretanto, cresci, percebi que as palavras ficam ditas para sempre e tentei aprender sozinho a andar de bicicleta. Não é a mesma coisa! Como não é a mesma coisa a televisão sem Dina.”
A publicação termina com a ironia típica de Cláudio, que não perde o humor mesmo em momentos de nostalgia, “As fotos desta publicação têm zero a ver com o texto. Só para que saibam, caso não tenham reparado.”