Como a Endemol esconde os concorrentes da Casa dos Segredos 3
Os novos concorrentes da ‘Casa dos Segredos 3’ já vivem neste momento em hotéis da zona de Lisboa numa relação muito apertada com os “Sombras”. Eles dormem no mesmo quarto, vasculham-lhes as malas, confiscam-lhes os telemóveis, desligam-lhe os televisores e os telefones dos quartos, acompanham-nos à casa de banho caso estejam fora do quarto de hotel.
Os sombras recebem cerca de 50 a 75 euros por dia de trabalho e normalmente são pessoas ligadas à Endemol que aceitam fazer este trabalho ou amigos desses colaboradores. “Têm é de ser de absoluta confiança”. Vários ex-concorrentes revelaram à revista Notícias TV algumas situações que passaram com os sombras. Marco que foi obrigado a ler um livro de psicologia, trocou 3 vezes de hotel em 4 horas.
A revista do Jornal de Notícias de hoje revela alguns segredos que a Produtora permite que se conheça sobre os segredos de como se protege os concorrentes nos últimos dias antes de entrarem na Casa dos Segredos.
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Os “Sombras”, são um pequeno e selecionado grupo de eleitos que vai vigiar os concorrentes antes de entrarem na Casa dos Segredos 3. Eles perseguem, escutam, veem e ouvem todos os passos dos que têm bilhete para entrar na Casa dos Segredos, que arranca este domingo à noite na TVI, com Teresa Guilherme aos comandos.
Se tudo correr como manda a tradição na produtora Endemol, os cerca de 20 concorrentes estarão hoje em 20 hotéis diferentes de Lisboa e arredores e cada um terá à sua espera um homem ou uma mulher que nunca viram antes, mas que vai partilhar o quarto com eles até domingo, vai vasculhar-lhes as malas, vai confiscar-lhes os telemóveis, desligar os televisores e os telefones dos quartos e até os acompanha à casa de banho caso almocem ou jantem fora do quarto de hotel.
A entrada de um concorrente pressupõe absoluta surpresa e os participantes não se devem conhecer nem cruzar. Não podem andar na rua sozinhos nem falar com ninguém em vésperas de entrar para o concurso. Para assegurar que nada corre mal, o melhor mesmo é contratar alguém que seja efetivamente a sombra do inquilino.
Mas nem todos estão aptos a fazer este trabalhinho de três dias. “Não existe a profissão de ‘sombra’. Normalmente, são pessoas ligadas à produtora que aceitam fazer este trabalho ou amigos desses colaboradores. Têm é de ser de absoluta confiança”, conta à nossa revista quem já exerceu a tarefa a troco de “50 a 75 euros por dia de trabalho”.
Hugo Felgueiras, ex-concorrente da primeira edição de Casa dos Segredos, entendeu-se bem com o seu “sombra”, com quem partilhou o quarto de hotel durante cinco dias, e lembra-se bem dos valores de mercado praticados. “Só sei que o meu ‘sombra’ era licenciado em Jornalismo, tinha sido contratado para fazer isto comigo e ganhava cerca de 50 a 75 euros”, confirma.
Normalmente, “são os ‘sombras’ que fazem o check in nos hotéis”, revelam à Revista. “Os quartos não estão no nome dos concorrentes e também não podem estar no nome da produtora, se não dá nas vistas e a imprensa pode descobrir”, especifica uma antiga “sombra” que pede anonimato. De todos os ex-concorrentes contactados, desde o primeiro Big Brother à última edição de Casa dos Segredos, ninguém se lembra de alguma vez ter precisado de apresentar o BI, o cartão de cidadão ou o contribuinte para o que quer que fosse. Estava sempre tudo tratado!
Uma vez em Lisboa e na rota de entrada no concurso da TVI, os inquilinos eleitos também não têm memória de terem precisado de dinheiro para comer. “Íamos a restaurantes pré-programados pela produtora, cada concorrente e cada ‘sombra’ iam a um para não se cruzarem uns com os outros”, explica um ex-sombra do Big Brother. O plafond parece ser agora o método escolhido. “Tínhamos um orçamento de 30 euros diários para refeições para os dois. A produtora estabelecia um valor e nós íamos gerindo pelos três dias”, revela o participante de Secret Story 2.
“Tínhamos cerca de 200 euros em cinco dias, mas no domingo gastávamos pouco dinheiro. A verba chegou e sobrou”, recorda-se Hugo F..
Confrontada com os requisitos para se ser “sombra”, com as regras a aplicar e quais os montantes pagos, a Endemol não quis prestar declarações sobre esta matéria. “Não é possível responder a essas questões e a razão é simples: se o objetivo é esconder, não podemos revelar de que forma ou em que moldes o fazemos”, explica o responsável de imprensa da produtora.
Vários ex-concorrentes reiteraram que sempre que abordavam o assunto dos “sombras” dentro da casa, a voz desligava o microfone e chamava os delatores ao confessionário. “Só tínhamos autorização para falar do presente e do futuro”, recorda Susana de Secret Story 2.
A vigilância é tão apertada que o “sombra” até dorme no mesmo quarto que eles, numa cama ao lado, e só os deixa no preciso momento em que os participantes saem, cada um do seu carro, para acenar à multidão e entrar diretamente na casa, no domingo à noite.
“Até para ir beber um café à rua o ‘sombra’ ligava sempre a um responsável da produtora. Passado dez, 15 minutos, o responsável ligava de volta a dar a resposta”, recorda Hugo F.
Susana, concorrente da segunda edição, nem à porta do quarto podia ir: “Era sempre a minha ‘sombra’ que ia atender e ver quem era”, lembra. E a única vez que saiu foi para mudar de hotel.
“Alguém descobriu que eu estava ali e tivemos de sair a correr, de fininho. Mandou-me tapar a cara com um casaco e pôr uns óculos de sol. No hotel, não podia sequer ficar na receção, tinha de subir logo para o quarto.”
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Marco Costa, ex-namorado de Susana, teve um arranque bem mais atribulado. “Logo na sexta-feira, e em apenas quatro horas, troquei três vezes de hotel porque havia desconfianças de que me tinham descoberto. A minha ‘sombra’ tirou-me os telemóveis, desligou o televisor do quarto e tirou o telefone fixo da tomada e trancou-o na mala dele”, recorda agora o pasteleiro, entre risos.
“Ele levou dois ou três livros para ler da área da psicologia e obrigou-me a ler um. Nos intervalos, ajudava-me a estudar os mandamentos da voz. Não podia sair do hotel, mas quando ia para a piscina, ele ficava debaixo do chapéu a ver se eu falava com alguém”, relata.
A “sombra” de Hugo F., que também lhe tirou as telecomunicações, era ainda mais chegada: “Para ir à casa de banho, quando não estava do quarto, tinha de ir com o ‘sombra’. Se estivesse na receção do hotel ou num restaurante, ele vinha comigo”, lembra. E relativiza: “Nunca achei estranho, também não me importava porque estava a cumprir o contrato.” Os momentos mortos eram ocupados a jogar cartas, a jogar Uno e a conversar.
Susana diz que nem deu pelo tempo passar. “A primeira coisa que a minha ‘sombra’ fez foi revistar-me as malas. Pedíamos a comida para o quarto e só íamos ao restaurante muito raramente. Mas havia sempre gente a entrar e a sair, era roupa, cabelos, a psicóloga.” Pedro Luso também foi sujeito a regras apertadas. “Quando chegámos ao hotel, na sexta-feira, cada um tinha um envelope à espera com o segredo com que ia entrar na casa. A partir daí, a ‘sombra’ tirava os telefones. Na televisão, só podíamos ver canais estrangeiros, tipo CNN, FOX e Hollywood. Quando saía para almoçar e jantar, porque não havia restaurante no meu hotel, nem podia olhar para as bancas dos jornais e andávamos sempre no mesmo quarteirão.”
Nem mesmo depois de ter sido assaltado por uma dor de dentes Pedro teve autorização para se deslocar a um consultório. “Foi o dentista que foi ao quarto de hotel ter comigo. Ainda houve a possibilidade de ir a uma consulta, mas fora de horas, o que acabou por não acontecer”, conta Luso, que apesar de ter entrado como namorado de Daniela P. nunca a viu entre sexta-feira e a noite de gala. “Cada um tinha o seu ‘sombra’, apesar de o nosso segredo ser comum”, clarifica.
O cerco aperta-se à medida que se aproxima a noite de estreia. Os inquilinos deixam os hotéis por volta das 19.00 de domingo. Cada um segue no carro do “sombra”, a uma distância de segurança. Mas para não haver erro, todos têm de ir escondidos no banco de trás. Mais: para não haver mesmo quaisquer deslizes, há “sombras” que colocam vendas nos olhos dos concorrentes… Tudo até à hora em que Teresa Guilherme os chama. “Levávamos comida no carro para essas horas que estávamos à espera e tínhamos de estar de cabeça baixa. Não estive quatro horas no carro, mas não faltou muito”, lembra Marco Costa.
Pedro Luso ainda hoje se impressiona com as regras. “Não tinha noção de como era a realidade nestes programas, achava que tudo começava no domingo, mas afinal começava antes. Íamos em 22 carros iguais, com vidros fumados, íamos com vendas nos olhos e pediam para nos baixarmos. Parecia um filme de Hollywood”, diz. Até as idas à casa banho requeriam sabedoria, engenho e muita discrição.
Depois de três dias em profunda comunhão e de um sentido adeus, só resta a um guarda-costas uma última missão: desaparecer com a mesma rapidez com que surgiu e fazê-lo sem deixar rasto. Na verdade, poucos concorrentes da Casa dos Segredos voltaram a falar com a sua “sombra”.
Menos rigorosos eram os sombras do Big Brother. Zé Maria, vencedor do primeira temporada, nunca precisou de partilhar um quarto com ninguém. A “sombra”, que é hoje assistente do concurso da RTP1 Preço Certo, Cristina Martins ia buscá-lo às 07.30 à porta do quarto e deixava-o quando ele ia dormir. “Todas as manhãs, às sete, a produção entregava a cada “sombra” um mapa de Lisboa com os sítios por onde cada um podia andar. Mas entre nós, “sombras”, estávamos sempre muito alinhados e em permanente contacto e todos sabíamos onde é que cada um ia almoçar ou jantar”, recorda Cristina. Se se cruzasse com algum colega, a ordem era “para não falar nada”.
Aníbal, do BB3, sagrou-se como o forcado que toureou a produção. Como os “sombras” nunca ficavam no hotel com os concorrentes, aquele decidiu ir festejar a sua última noite de liberdade. “No sábado, na véspera de entrar, fiquei à espera que o ‘sombra’ deixasse o hotel. Depois saí e fui para o Salsa Latina. Como me tinham tirado o telemóvel e não o dinheiro, meti-me num táxi. Alguém da produção, no dia seguinte, descobriu e levei um ralhete. Sei que podia ter sido expulso logo ali”, recorda Aníbal. O pior mesmo é que o forcado decidiu, conta quem conhece a história, “pagar umas rodadas aos amigos” e o brinde era simples: “Eu ia para o Big Brother.”
Nando, o vencedor dessa temporada, conta que chegou ao hotel no mesmo dia em que, horas depois, pisava a moradia vigiada da Venda do Pinheiro. Para tal mudança de atitude em muito contribuíram as edições de reality shows com famosos, em que muitos dos nomes eram já conhecidos antes do arranque do formato e o controlo não era tão exigentes. Com a chegada dos segredos, porém, tudo tomou outra proporção e, claro, outro secretismo.