Sérgio Praia foi o mais recente entrevistado para o Goucha no Conta-me. Contou a sua adolescência difícil, e até passou fome. Trabalhou nas obras e roubou 40 contos aos pai.
Quando tinha 15 anos fugiu de Ovar porque queria dançar Ballet no Porto, e acabou por roubar 40 contos ao pai, mas correu tudo mal. Viveu na rua e passou fome.
«Decidi fugir de casa e ir para o Porto. Roubei 40 contos ao meu pai. Abri-lhe um cofre com um pé de cabra. Fiz um saco com atum, salsichas, velas, uma carta de uma amiga do Porto, umas calças e sapatilhas de ballet. Fugi pela praia. Fui até Esmoriz».
«Pensei que, se calhar tinha de fazer as coisas com mais calma. Independentemente de todos os problemas que tinha em casa, sempre tive comida. Sempre fui muito bem tratado, sempre tive uma cama lavada».
Depois entregou-se na esquadra de Valongo, e foi o pai busca-lo, «Mandaram-me para um seminário durante uns meses para eu refletir sobre a minha vida e sobre as minhas escolhas e ali eu percebi que estava certo».
Quando dormiu na rua, escolhia sítios em obras, «Eu procurava obras mais ricas para ter maior comodidade para dormir. Tinha um saquinho onde punhas as minhas coisinhas. Comia o que encontrava na rua, às vezes».
Ainda assim, não se arrepende de nada, «Fazia tudo novamente. Eu sempre quis valer por mim. Não gosto de pedir nada a ninguém. esse foi o compromisso que fiz quando saí de casa».
Só que a relação com a familia, é algo que o magoa, «Tentou-se conversar algumas vezes, mas há coisas que não funcionam mesmo. Não vou dizer que sou completamente feliz. A minha maior mágoa foi com o meu pai, ele é uma pessoa muito violenta. A minha mãe sofreu bastante naquelas mãos durante muito tempo. Nem eles tinham noção, nem eu, que isto me marcasse tanto na minha vida».