ENTREVISTA EXCLUSIVA! “Vítima” de Rúben Aguiar: “Que vá comer o bacalhau aos quadradinhos!”
Esta quarta-feira, 5 de Novembro, é o dia decisivo no caso de "tentativa de homicídio". O cantor do 'Gago' arrisca prisão efetiva, depois de três meses de preventiva e dois anos em domiciliária.
 O Supremo Tribunal de Justiça está prestes a divulgar o futuro do madeirense.
Pedro Nogueira Simões, o advogado da vítima, diz que o músico “teve dolo direto” e pede que se “mantenha a pena: “A vida humana não é negociável!” O DIOGUINHO falou em exclusivo com Carlos Sales, o queixoso, que relata o “pesadelo” em que vive desde 18 de Abril de 2023.
DIOGUINHO – Consegue recordar o dia em que tudo aconteceu?
 CARLOS SALES – Há mais de dois anos, vai fazer quase três. Ou seja, nesse dia, a minha vida mudou para sempre. Disso não tenho dúvida.
– Estamos a falar de quê?
 – Não foi para melhor, não. Foi para pior. Em termos físicos, mentais, mas mais físicos. Eu fazia de tudo e hoje em dia vejo-me aflito para fazer, às vezes, certas coisas.
– Quantos anos é que tem?
 – Olhe, fiz 56 em Outubro.
– Naquele dia, estava a trabalhar?
 – Estava a trabalhar. Estava a trabalhar.
– Mas trabalhava em quê?
 – Trabalhava e trabalho. Sou motorista de pesados.
 – Portanto, continua a desenvolver a sua atividade
 – Com muita dificuldade, mas continuo. Agora já não faço viagens internacionais. Todas as vezes que é preciso descarregar e carregar o camião, tenho que abrir as lonas laterais e fechá-las. É exigente… Muito exigente. Oito horas seguidas, levar a porrada nas costas e nas costelas como eu tenho. Às vezes, faço viagens de oito horas seguidas e chego ao fim do dia, lá tenho que ir tomar uns comprimidos e ver se passam as dores.
– Não deve ser nada fácil…
 – Nada… Principalmente, nos joelhos e nas costelas. Não sei ao certo qual é a incapacidade com que vou ficar, ainda não está atribuída definitivamente. Está a ser tratado, possivelmente até ao final do ano é capaz de estar decidido.
– A dificuldade em continuar a trabalhar…
 – Sim, mas preciso de continuar a trabalhar. Apesar das mazelas que eu tenho, parar para mim ainda era pior. Nem que fosse a nível mental, deixar de ter uma ocupação, e mesmo em termos económicos. Exatamente. Claro, exatamente.
– A 18 de abril de 2023, o senhor estava na área de serviço de Alcochete…
 – Eu ouvi um carro vir no sentido contrário, que eu conheço bem a bomba. Vejo o carro, ouço o carro vir em sentido contrário e, quando olho, vejo o carro vir e chamo a atenção do senhor, que estava no sentido errado. E ele logo lá, a primeira, atirou com o carro para cima de mim. Tanto foi que mandei um murro no capô do carro. Depois, ele continuou a querer continuar a marcha, mas eu chamei a atenção novamente. E foi quando ele saiu do carro e discutimos, nunca nos agredimos um ao outro, nunca nos tratámos mal um ao outro. Quando ele entrou dentro do carro, pensei que tivesse tudo sanado e eu atravessei o carro.
– O que lhe disse?
 – Perguntou-me quem eu era e eu disse que não interessava nada quem eu era. ‘Estás a sair para o sítio errado, a saída é para o outro lado’. Até ao dia em que a Polícia Judiciária o prendeu, eu não sabia quem ele era.
– Nunca tinha ouvido falar do Ruben Aguiar, cantor da Canção do Gago?
 – Não. Nem me lembro de alguma vez ter ouvido aquela música. Não me recordo, não.
– Foi então que…
 – E disse ele, a saída é para o outro lado. Foi quando ele entrou, passei à frente do carro, em cima do passeio, quando senti um puxão nas costas, eu não me lembro de mais nada. Quando me recordo, estou a tentar-me levantar e estão duas ou três pessoas ao pé de mim, a quem eu agradeço a ajuda que me deram, e terem-me socorrido, a dizerem para não me levantar que tinha acabado de ser atropelado.
 – Como descreve o que sucedeu?
 – Atirou o carro para cima de mim… Preferia que ele me tivesse dado um murro, ou coisa assim, e que a gente resolvesse a coisa assim, dessa maneira. Agora aquilo que ele fez não, é cobardia mesmo, porque meteu-se dentro do carro e com o carro é que fez o que queria fazer, não é? Passou-me mesmo por cima. Ele atirou-me ao chão e depois passou-me por cima das costas. Isto tudo… Vê-se mesmo no vídeo.
– Ficou sem se conseguir mexer…
 – Sim, sim, não me conseguia mexer, não me conseguia levantar do chão. Dores não tinha, porque estava quente. Não senti nada. Uma coisa é certa, até ao dia que eu saí do hospital e trataram-me, poucas dores eu tive. Se calhar tive muito tempo medicado, agora que sofri um bocadito, sofri com as operações e com o tempo que estive no hospital, sofri bastante.
– Quanto tempo esteve no Hospital?
 – Estive 29 dias, a maior parte deles nos cuidados intensivos. Os médicos receavam que as costelas me furassem os pulmões. Estava numa situação nada fácil… Creio que em perigo de vida, sim, porque eles não queriam me deixar ir para o quarto. Eu fiz a primeira operação, foi às costelas, e enquanto eles não viram se eu estava livre, não me tiraram dos cuidados intensivos. No quarto, ou seja, na enfermaria, no quarto, num quarto normal, eu tive para aí uns oito dias no máximo.
– Voltando então àquele dia, depois de ser atropelado, onde é que estava o Ruben Aguiar?
 – Não faço ideia. Acredite que não faço ideia. Depois, mais tarde, vim a saber que estava num armazém, em Alcochete, onde é gravado O Preço Certo. Foi lá atuar. Agora se foi ou não foi, não sei.
– Depois de um atropelamento?
 – Exatamente. Como se não tivesse acontecido nada. Até ao dia em que as imagens saíram na televisão, ele não acreditava naquilo que se dizia, dizia que só tinha passado por cima de um pé, portanto ele nunca se acreditou naquilo que me fez.
– Como é que chegaram à identificação dele?
 – Pelas filmagens. Que viram quem é que ele era, foi mais fácil. Viram o carro e, depois, quando eu tive alta, a Judiciária foi buscá-lo ao aeroporto porque vieram a saber que o carro era alugado, que o carro estava alugado àquela pessoa naquele dia e as filmagens da bomba, as filmagens do restaurante fast food, ele teve lá, eles viram tudo. E, então, depois eu identifiquei-o na PJ de Setúbal.
– Perguntou-me quem eu era e eu disse que não interessava nada quem eu era. ‘Estás a sair para o sítio errado, a saída é para o outro lado’. Até ao dia em que a Polícia Judiciária o prendeu, eu não sabia quem ele era.
– Detiveram-no…
 – Quando ele ia para o Canadá fazer uma atuação qualquer. Foi detido no aeroporto porque fez escala em Lisboa.
– Quando é que foi a primeira vez em que esteve frente a frente com ele?
 – Foi em tribunal. Em Almada. Cara a cara, mesmo assim, cara a cara foi em tribunal na Almada. Tribunal de Almada. Ele queria dar-me uma ‘mãozada’. E pedir desculpa. Como se não tivesse acontecido nada. Era, como se não tivesse passado por cima de mim.
– E o que fez?
 – Eu disse que não tinha o prazer de o cumprimentar. Depois de ele fazer aquilo que fez, não tinha o prazer de o cumprimentar. Não disse mais nada.
– E, perante o Juiz?
 – Desmentiu. Diz que não viu, diz que não se apercebeu, que depois já tinha ouvido um barulho, mas estava em pânico. O homem tentou, por todas as razões, dizer que não fez nada, que eu é que o agredi, se calhar. Que eu é que me pus debaixo do carro. Foi, claro!
– Nunca mais voltou a falar com ele?
 – Não, nunca mais o vi sequer.
– E agora, no dia 5 de novembro, é que se vai ficar a saber a decisão final…
 – A única coisa que eu quero é que ele vá comer o bacalhau aos quadradinhos, porque está há muito tempo de férias.
– Que fosse passar o Natal atrás das grades?
 – Exatamente. Depois do resto a gente vai ver como é que se vai resolver.
– Pretende que ele também lhe dê uma indemnização?
 – Tenho direito a isso, tem que me pagar bem caro.
– Quanto é que pediu?
 – Não sei, isso está com os advogados, isso é… Ainda assim não há dinheiro nenhum que me devolva a saúde que eu tinha?
Ficou com sequelas físicas e psicológicas?
 – Ah, claro. Da parte de cima eu tinha dentes, fiquei sem nenhum. Da parte de baixo, só tenho quatro. No maxilar tenho seis placas, no maxilar de baixo. Seis placas. Tenho metade da boca toda dormente. Se quiser comer um bocado de pão, tenho que partir os bocadinhos, porque eu não consigo morder nada. Quero pegar num saco das compras, não consigo, porque eu moro no primeiro andar. Para levar as compras para casa não consigo, tenho que pedir à mulher para levar as coisas. Porque não consigo, não tenho força na perna, nem nas costelas.
– Também deve ter sido complicado a nível familiar, com a sua mulher, três filhos…
 Claro que foi. Não, os filhos já estão crescidos. Já têm a vida deles. Já tenho quatro netos, veja lá. Mas o problema é que tenho casa para pagar, carro para pagar. Olhe, tenho as prestações das coisas atrasadas. Tudo em dia, mas está sempre atrasado.
– Para além disso…
 – Aquilo que fez, fez com vontade, não é? Não fez sem querer, não fez com… Fez com vontade. E com consciência daquilo que estava a fazer. Tenho problemas em dormir, tenho problemas familiares, tenho problemas em… Com sequelas a nível mental e, nomeadamente, isso depois também acarreta dificuldades na relação com a minha mulher.
– Quer deixar alguma mensagem a alguém?
 – Tenho é a dizer ao Senhor Ruben Aguiar que pense bem antes de fazer, seja aquilo que for, a outra pessoa. Porque ele agora tem filhos, e agora é que se lembra dos filhos e lembra-se de muita coisa. Mas na altura quando me fez o que fez não pensou em nada disso, só pensou em fazer-me mal. Sim, porque ele fez mal voluntariamente. E, segundo parece, já não é a primeira vez.
– Mas já tinha antecedentes?
 – Segundo consta, de violência doméstica… Acho que até nem foi cá, acho que foi no Reino Unido.
– O que gostaria de pedir ao Juiz?
 – A sorte está traçada. Agora é aguardar e esperemos que seja firme. Que os juízes sejam firmes. Que apliquem a lei, só isso, mais nada. Que se faça justiça!