Geral

Filha de José Manuel Anes ameaçava o pai há cinco anos. Novos detalhes revelam um plano de violência e rancor antigo

O criminologista José Manuel Anes sobreviveu a uma agressão brutal da filha. As investigações mostram que as ameaças vinham de longe, e que ninguém acreditou que fosse possível chegar tão longe.

Há medida que surgem detalhes sobre o ataque brutal de Ana Anes, de 48 anos, ao pai, o criminologista e antigo perito da Polícia Judiciária, José Manuel Anes, de 81 anos, ainda ficamos mais chocados.

O que inicialmente foi descrito como um “surto psicótico” parece agora ter sido o culminar de um conflito familiar prolongado, marcado por ameaças, rancores e um motivo patrimonial.

Durante dias, a versão mais difundida sugeria que Ana, conhecida sexóloga e autora, teria perdido o controlo num episódio de perturbação mental. Contudo, de acordo com informações apuradas pela imprensa, a Polícia Judiciária e o Departamento de Investigação e Ação Penal (DIAP) de Lisboa descobriram que a filha ameaçava o pai há cerca de cinco anos. As ameaças, feitas em mensagens e publicações nas redes sociais, descreviam um relacionamento “altamente conflituoso” e já faziam temer um desfecho violento.

O motivo das tensões, dizem as fontes citadas, não estava diretamente ligado à herança, como se chegou a afirmar.

Em causa estaria uma casa localizada na Costa da Caparica, em Almada. Ana queria que o imóvel fosse colocado no seu nome para, posteriormente, o poder vender. Uma exigência que, segundo a investigação, o pai recusou.

Como se sabe, “em Portugal, os pais não podem deserdar os filhos”, o que tornava a justificação apresentada pela agressora sem fundamento legal. Ainda assim, foi o suficiente para acender uma guerra entre pai e filha que se foi agravando ao longo dos anos.

No dia do ataque, José Manuel Anes abriu a porta de casa convencido de que se tratava de uma entrega. Do outro lado, estava a filha, que o empurrou para o chão e o agrediu com violência. Seguiram-se murros, facadas e um gesto particularmente cruel: Ana terá pressionado os dedos nos olhos do pai com o intuito de o cegar.

O idoso ficou caído no chão, ensanguentado, durante quase duas horas, até conseguir pedir ajuda. Foi transportado para o hospital, submetido a uma cirurgia ao abdómen e, apesar da gravidade dos ferimentos, sobreviveu. Os médicos confirmaram que “os golpes de faca não atingiram órgãos vitais”.

Nas horas seguintes ao crime, Ana fez publicações nas redes sociais com mensagens incoerentes e alusões confusas ao pai, o que reforçou a ideia inicial de um surto psicótico. Porém, à medida que o inquérito avançou, a hipótese de premeditação ganhou peso. As ameaças antigas, o histórico de conflito e o tipo de ataque parecem contrariar a tese de uma ação impulsiva.

Atualmente, Ana Anes encontra-se em prisão preventiva, depois de ter sido transferida da prisão de Tires para o Hospital-Prisão de Caxias, onde está a ser acompanhada por uma equipa psiquiátrica. A defesa deverá basear-se num diagnóstico de perturbação mental, mas os investigadores consideram que há “elementos de planeamento” no crime, o que poderá afastar uma conclusão puramente clínica.

José Manuel Anes, conhecido pelo trabalho na área da criminologia e pela colaboração com meios de comunicação, recupera lentamente dos ferimentos. Mantém-se afastado da vida pública e não fez declarações desde o ataque.

O caso levanta uma questão inquietante: como é que uma história de ameaças e tensão familiar pôde evoluir, durante anos, até à tentativa de homicídio? As investigações continuam, mas o retrato que emerge é o de uma relação marcada por rancores prolongados, problemas de saúde mental e uma violência que, segundo os indícios agora revelados, podia ter sido antecipada.

O que começou como um suposto “surto” é, afinal, o desfecho de uma tragédia familiar anunciada, onde a dor, o silêncio e a raiva se cruzaram até à fronteira do irreparável.

Publicidade

Deixe um comentário

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *

Botão Voltar ao Topo