Incêndios Portugal. Trancoso vive inferno das chamas e zero reforços: ‘que não foram autorizados’
Populações enfrentam inferno de chamas enquanto reforços ficam por autorizar. Denuncia por Tânia Laranjo.

Tânia Laranjo descreveu um cenário de caos e abandono no combate aos incêndios no interior do país, em particular em Trancoso.
A repórter, cansada e com alguma revolta, relatou a falta de meios e a ausência de reforços, apesar da disponibilidade de bombeiros de Lisboa para ajudar. “Não tem água, não tem nenhum tanque. Ainda agora o regimento de sapadores de Lisboa, diziam-me elementos dos sapadores de Lisboa, que se disponibilizaram para vir ajudar a combater os fogos no interior e que não querem. Não foram autorizados reforços de meios. Eu não consigo perceber. Nós estamos aqui já desde ontem com populações abandonadas, esquecidas, a improvisar.”
Tânia Laranjo pintou um retrato dantesco em Trancoso, onde de dezenas de moradores, muitos deles idosos, na linha direta do fogo. “Foram 20 ou 30 pessoas, algumas com mais de 60 anos, na linha do fogo. Com mangueiras, com baldes, com gestas a apagar as chamas. Aqui as chamas já estão neste quintal, ali em baixo estão no outro quintal. Eu diria que está tudo a circular, o fogo está a circular.”
O vento, o fumo espesso e as folhas incandescentes no ar criavam um ambiente sufocante e perigoso, um incêndio que esteve bastante controlado, de repente tudo mudou, “O fogo está a passar de um lado para o outro. As populações estão completamente abandonadas, estão completamente sozinhas. Não é verdade que haja meios suficientes no terreno. É verdade que há bombeiros que querem vir ajudar e que não estão a ser autorizados.”
A repórter não escondeu a emoção: “As pessoas estão em pânico, estão completamente desesperadas. (…) Eu e o Adan [repórter de imagem] estamos a chorar aqui há horas, porque é tanto fumo e é tão intenso que de facto torna completamente, eu diria quase impossível respirarmos.” Entre chamas que “vinham de trás” e frentes de fogo que surgiam “em várias direções”, o relato foi intercalado por imagens de civis a usar baldes de água e por elementos da GNR, “quatro ou cinco”, tentando conter o avanço. Num momento de improviso, até um chafariz público servia para encher recipientes e molhar o terreno.