GeralSecret Story 3

Jean-Mark: O horror vivido em África

Para surpresa geral, o imigrante conseguiu chegar ao pódio da “Casa dos Segredos”. Cá fora, fala pela primeira vez do que o levou a deixar o país natal para refugiar-se em Portugal.

Conquistou o público pela simplicidade, mas também pela sua graça. Aos 21 anos, Jean-Mark já tem uma história de vida que dava um filme, recheada de momentos perturbadores, mas também de episódios hilariantes.

Como é que se descreve?

Sou uma pessoa calma, tranquila e divertida. Apesar de não ser tão agressivo como a maioria dos concorrentes, sou o oposto do estereótipo do coitadinho. Se calhar foi por isso que me deixaram ficar tanto tempo. O terceiro lugar foi uma vitória para mim.

Foi difícil integrar-se no grupo?

Sim, nos primeiros dias senti-me perdido, eram todos diferentes de mim. Demorei a adaptar-me, mas aos poucos ganhei maturidade, paciência e autoconfiança.

Passou a infância na África do Sul. Como foram esses anos?

Foram espetaculares. A diferença entre lá e Portugal é que lá não é preciso muito dinheiro para nos divertirmos. O contacto com a Natureza era enorme. O mato é do que tenho mais saudades.

Dizem que tinha uma vida de luxo. É verdade?

Não tinha uma vida de luxo. Tínhamos piscina porque os meus pais trabalhavam num hotel e vivíamos lá. Não éramos ricos, mas se calhar vivíamos como ricos. Sempre fomos da classe média. Fazíamos uma vida normal. Nunca tivemos grandes carros.

Como era viver num dos países mais perigosos do mundo?

Habituamo-nos. Às nove da noite não se pode andar na rua por questões de segurança. Temos de ter mais cuidado. Acabou por ser por isso que regressámos a Portugal.

Viveram experiências-limite?

Aos 13 anos, fui roubado quando estava com o meu irmão e um amigo. Ameaçaram-nos com um tijolo e ficámos sem o telemóvel e o dinheiro. Graças a Deus, não nos aconteceu nada porque não resistimos. Se tivéssemos feito alguma coisa, podia ter corrido muito mal, teríamos posto a nossa vida em risco.

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Foi o pior que vos aconteceu?

A nós sim, mas havia muitas histórias. No final, mudámos para uma casa alugada e era pior porque começaram os assaltos na zona onde morávamos. Aos sábados as pessoas iam à missa e quando voltavam a casa estava vazia. Um casal amigo foi assaltado em casa. Os dois foram amarrados e, quando iam violar a mulher, o marido reagiu e mataram- no.

Passaram a ter ainda mais cuidado?

Claro, tivemos de passar a ter os olhos mais abertos. Quando chegávamos a casa, tínhamos de ver se não havia nada de estranho. Tínhamos de estar mais atentos.

Os brancos eram um alvo?

Não. Todas as pessoas eram um alvo, era quem calhasse.

Até que não aguentaram mais e voltaram para Portugal?

Sim, foram situações deste tipo que fizeram com que viéssemos embora. Com dois filhos, os meus pais não quiseram arriscar.

 

Em 2011 também teve um acidente de carro, onde acabou por morrer uma pessoa…

Não era eu que estava a conduzir. Ia num carro com um amigo, numa estrada sem luz, quando alguém sai do mato a correr. Era impossível desviar o carro. Atropelámos esse homem e ele morreu. Contactámos a Polícia, o caso foi a tribunal e acabou por ser arquivado porque não tivemos culpa. Mesmo assim fiquei traumatizado. Nos dias seguintes nem conseguia adormecer. Nunca tinha visto um homem morto.

Como é que foi chegar a Portugal, um país que mal conhecia?

Foi um choque. Tudo era diferente, mas tive de habituar-me. Lidar com o frio foi o pior. Ainda não me habituei. Pelo menos aqui conseguia andar mais à vontade na rua, sem pensar que podia haver alguém atrás de mim. Entrei no 11.º ano e no início foi muito difícil. Eram aulas extra atrás de aulas extra, mas consegui passar de ano. Pelo menos serviu para fazer grandes amigos.

Adaptou-se bem a viver com os seus avós?

Foi fácil, sempre me dei bem com eles. Eles tratam-me como um filho.

A sua avó teve um cancro e o avô sofre do coração. Como é que um jovem lida com este tipo de problema?

Dei-lhes todo o meu apoio. É normal, adoro os meus avós e faço tudo para que fiquem bem. Quando descobrimos foi um choque. Não é fácil lidar com isso, mas temos de estar sempre prontos para tudo neste mundo.

Assumiu que perdeu a virgindade ao 12 anos. Não receou a opinião das pessoas?

Não, foi uma coisa que aconteceu na minha vida. Percebo que pode haver quem ache mal falar disso, mas é a opinião deles.

Foi precoce…

Sim, era muito jovem e assumo que foi constrangedor.

O tamanho do seu pénis também deu que falar…

Não estava à espera que esse assunto fosse falado na Casa, mas também não tenho razões para esconder. Agora na rua tratam- ‑me por “trombinhas”, mas levo isso na brincadeira. Temos de aceitar-nos como somos.

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Não receia que o tamanho possa afastar potenciais pretendentes?

Não sei. Acho que as mulheres vão ter de aceitar-me como sou. Não será com certeza por causa da “tromba” que alguém vai querer ou não estar comigo. Ainda ninguém fugiu de mim por causa disso (risos).

Está à procura de namorada?

Sim, gostava de encontrar a mulher dos meus sonhos. Lá dentro não havia ninguém que me interessasse. Não havia o meu estilo de raparigas. Não estava lá a pessoa certa para mim.

Viu a discussão do seu avô com o pai do Cláudio? O que achou?

O meu avô defendeu-me e espero que no futuro ainda nos possamos reconciliar com o pai do Cláudio. Não fiquei chateado com o que ele disse. Aprendi na Casa que toda a gente tem a sua opinião e temos de respeitá-la. Se ele quiser, podemos ter uma conversa para ver que eu não sou gay.

O que quer fazer agora?

Nos próximos anos vou ficar em Portugal. A longo prazo talvez regresse a África, porque há mais oportunidades de trabalho. Entretanto, quero divertir-me. Nunca se sabe se não me convidam para fazer numa novela ou se aparece alguém para me oferecer uns implantes capilares para as minhas entradas…

Ou para participar num filme pornográfico…

Não, isso não aceitava. Os meus fãs podem ficar descansados que não vou entrar em filmes pornográficos.

Revista ANA

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