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Joana Barrios recorda pai biológico que “se deixou consumir por uma doença mental não convenientemente tratada”

Joana Barrios partilhou no Instagram uma fotografia antiga da sua infância acompanhada do pai e deixou um emotivo desabafo.

A escritora e cozinheira recordou a relação conturbada com o pai: “O senhor da fotografia chama-se Zé Luiz e é o meu pai biológico. Decidi chamar-lhe assim quando morreu e processei finalmente o seu impacto na minha vida. Comecei nessa altura, aos 23, a fazer psicoterapia para assimilar e fazer as pazes. Por respeito aos que ainda vivem e com quem vivo, nunca falo sobre o Zé Luiz, porque ele não foi uma pessoa muito espectacular, antes pelo contrário“, começou por escrever.

No entanto, e porque ele é parte daquilo que sou, o 21 de Dezembro é sempre um dia complexo de viver, porque era o dia do seu aniversário. Muito simbólico, cristão – como ele. Os meus pés são iguais aos dele. A caligrafia. O gosto por alfarrabistas, antiquários e conservação também vem daí. E dizem outras coisas que na minha arqueologia sei que correspondem a uma verdade. Foi através dele que percebi o verdadeiro significado de empatia quando num rasgo o percebi enquanto lanchávamos na Biblioteca Municipal de Beja“, explicou.

Falo hoje dele não só pelo facto de ser o seu dia, mas porque sigo muitas páginas em que as pessoas utilizam o espaço público para encarar a dor e fazer as pazes com ela, e porque muitas vezes apagar a memória pode parecer aliciante, mas depois ela acaba sempre por vir ter connosco quando menos esperamos. Nesta história sou a criança que fez o caminho do adulto, sou a criança que decidiu não odiar o adulto, mas antes empreender todos os esforços para tentar compreendê-lo. A pessoa e o seu contexto. O Zé Luiz era um fulano inteligentíssimo que se deixou consumir por uma doença mental não convenientemente tratada, agravada por um alcoolismo latente desde a adolescência e por uma identidade que por medo nunca reclamou. Também teve uma infância terrível. Sei que me deu a vida, antes de mais, mas também a necessidade de provar que valho a pena e a necessidade de ser amada. Isto que se segue não é uma escolha, mas sim uma inevitabilidade resultante do privilégio que tenho. Apesar de tudo, escolho olhar para o Zé Luiz como uma das figuras extravagantes da minha mitologia, porque é assim que se tornou confortável e até divertido recordá-lo“, acrescentou.

Reconheço a dor que infligiu, porém pude libertar-me dela porque me deixaram ser criança e protegeram a minha infância e o seu universo mágico, onde pude efabular sobre essa minha mitologia e construir as razões que o terão levado a causar tanto sofrimento. Nunca o odiei. Lamento nunca lhe ter dito em vida que o compreendia e que tinha para com ele compaixão, perdão e até a possibilidade de iniciarmos uma nova relação. Mas nunca chegou a acontecer. A última vez que falámos foi sobre um filme que nunca vi. E é por causa de um filme que vi que decidi hoje escrever sobre ele, honrar o que me resta da sua memória e partilhar que nada está cristalizado e que escutar é essencial para avançar. Não posso dizer que sei que me iria compreender ou que iria gostar do que imaginei para ele, posso apenas imaginar que sim e fixar mais esse pedaço na sua cartografia“, rematou.

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