Judite Sousa deu uma grande entrevista à revista Lux desta semana, a propósito do seu novo livro “Pedaços de Vida”.
A jornalista recordou um momento “muito duro, psicologicamente falando” em direto, em 2019: “Eu estava a apresentar o “Jornal das 8” quando foi noticiado o caso da criança que tinha uma doença rara e que precisava de um medicamento de dois milhões de dólares que existia nos Estados Unidos. A dada altura, senta-se ao meu lado a pessoa que eu iria entrevistar sobre o tema. Tratava-se do presidente do Conselho de Administração do Hospital Garcia de Orta quando o meu filho lá esteve, em 2014. Eu não imaginava que tal situação me pudesse estar a acontecer. Durante um jornal – em direto! – ele disse-me: “Fui eu que assinei o comunicado à imprensa, dizendo que o seu filho estava em morte cerebral, porque nenhum médico dos cuidados intensivos o quis fazer.” E disse-me: “Sabe, os seus colegas fizeram uma pressão muito grande sobre os médicos. Queriam ser os primeiros a dar a notícia.” E deu-me um nome, que não refiro no livro”.
“Aquele momento foi de uma violência sem nome. Eu estava a apresentar em direto um jornal e fiquei a saber, a ter uma noção mais clara de como tinha sido tratada, pelos meus colegas, a morte do meu filho. E isso causou-me uma grande revolta, porque o meu filho não era uma figura pública”, acrescentou.
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“Infelizmente, a morte do meu filho e o meu sofrimento foram utilizados para vender jornais e revistas. E, no momento da sua morte, também para captar audiências televisivas. A única estação de televisão que não noticiou a morte do André foi a SIC. A RTP deu a notícia no final do “Telejornal”: um pivot solto, lido pelo José Rodrigues dos Santos. Informei-me de tudo. Quanto à empresa onde eu trabalhava [TVI], foi o que foi… Reconheço que faltou ponderação naqueles trágicos dias, mas assumo essa responsabilidade”, lamentou.
“Depois desse momento com o presidente do Conselho de Administração do Hospital Garcia de Orta voltei a bater no fundo. Não seria de esperar outra coisa. Voltei a desistir de mim própria. Não contei nada a ninguém. Vivi aquele momento em silêncio e deixei de cumprir com as minhas obrigações profissionais. Já não eram muitas, mas de qualquer forma tinha obrigações. Passei a chegar à TVI às três da tarde e a vir-me embora pouco tempo depois. Sentia que estava morta por dentro. Sentia-me um vegetal. A empresa concluiu que eu tinha deixado de ser um ativo, e eu própria cheguei à conclusão de que já não estava a fazer nada. Tudo tinha perdido sentido”, prosseguiu. Judite Sousa acabou por sair da estação em novembro de 2019.
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