Luís Osório não gostou do que foi dito por Bernardo Silva e deu um puxão de orelhas no seu ‘Postal do Dia’, publicado no Facebook.
“Bernardo Silva tem menos de 30 anos e, aconteça o que acontecer, será um dos melhores jogadores portugueses de sempre. O seu virtuosismo e inteligência tornam-no um caso raro na história do futebol, não precisa como a maioria de ser forte fisicamente ou de ter nascido predestinado. O Bernardo ilumina o seu jogo por ser mais rápido do que os outros a pensar dentro de campo”, começou por escrever.
“(…) No entanto, Bernardo vive aparentemente numa cápsula de privilégio. Só assim se pode entender o que afirmou numa das suas últimas conferências de imprensa. Queixou-se do excesso de jogos e do enorme e injusto peso de não poder estar mais tempo com os amigos e a família. Confesso-te que congelei. O Bernardo Silva, que ganha 410 mil euros por semana, teve a coragem de se queixar da quantidade de jogos e da falta de tempo para estar com os amigos e a família?”, acrescentou o jornalista.
“Saberá o Bernardo como vivem hoje as famílias? Saberá as horas que um português de salário mínimo tem de trabalhar? As horas que passa em transportes? O que tem de fazer para compensar a falta de dinheiro a meio do mês? Saberá o esforço que tanta gente que ganha tão mal faz para o ver jogar e alimentar a máquina do futebol e ajudar a que o seu ordenado seja aquele e não outro? Saberá quantas horas dormem as mulheres que limpam as fábricas, as empresas e as nossas casas? Todas as madrugadas a acordarem e a apanharem autocarros apinhados de gente ensonada que faz o que é preciso para ganhar num mês o que o Bernardo ganha enquanto põe as caneleiras? Saberá quantas horas trabalham e em que condições os homens nas fábricas, nas minas, nas obras?”, questionou.
“(…) É legítimo que Bernardo Silva tenha pena de não passar mais tempo com os amigos e de não visitar os pais sem ser quando o “rei faz anos”, mas bolas. Não se queixe do incómodo de não poder estar com os amigos por ter excesso de trabalho. Não é certo. Não é justo. É até chocante. 410 mil euros por semana. 1 milhão e 600 mil euros por mês. Não me lixes, Bernardo”, rematou Luís Osório.
O esclarecimento
Após críticas, Luís Osório fez um esclarecimento: “AINDA SOBRE O POSTAL DO DIA DEDICADO A BERNARDO SILVA. São muito raros os textos em que escrevo em reação a alguns comentários. O Postal que escrevi ontem sobre Bernardo Silva tornou-se polémico com mais de mil comentários, partilhas e divisão de águas. Muitas pessoas atacaram o que escrevi – e adoro quando existem diferentes opiniões e discussão de ideias. É um sinal saudável de liberdade de expressão e pensamento. Precisamos disso, de discutir ideias, de criar pontes de entendimento também a partir de bons conflitos. Deixo apenas uma nota que me pareceu quase irreal, compreensível apenas por ter escrito sobre uma grande figura do futebol e quando se escreve sobre futebol passamos a ser outros. A nota é que todas as críticas que recebi foram sobre o que eu não escrevi, o que eu não disse, o que eu não penso”, começou por referir.
“Eu não escrevi que o Bernardo Silva ganha demasiado dinheiro – adoraria ganhar o que ganha! Eu não escrevi que ele não tem consciência de que é privilegiado – já falou muito sobre isso e reconheceu-o com inteligência. Eu não escrevi que não é extraordinário – já lhe dediquei um Postal do Dia e neste mesmo postal defino-o como um dos melhores de sempre. E não escrevi sobre o excesso de jogos e sobre ele ter ou não razão de fundo nessa matéria – tenho dúvidas sobre o assunto. Não escrevi sobre nada do que me criticaram nos comentários. O que escrevi foi que Bernardo Silva não pode dizer publicamente que é uma chatice ter tantos jogos pois isso impede-o de ter uma vida como as outras pessoas. Não pode estar tanto tempo com os amigos e a família. É sobre isto, exclusivamente isto que escrevi. Alguém que ganha o que ele ganha não pode ou deve falar sobre a chatice de tantos jogos que o impedem de estar com amigos. Não o pode fazer por respeito para com as pessoas que têm vidas difíceis e que trabalham tantas ou mais horas do que ele. Quando a maioria da população portuguesa não ganha numa vida o que Bernardo ganha num mês, é preciso ter algum pudor. Foi exclusivamente isso que escrevi“, explicou.
“Bernardo Silva pode pensá-lo (eu também o pensaria), o que não é legítimo e moral é que o diga. Admito que muita gente não concorde comigo, mas é sobre esta matéria que escrevi e não sobre todas as outras de que falaram. Nunca tal me tinha acontecido. Foram centenas de comentários a criticar-me por aquilo que não disse. É obra“, finalizou.