Nuno Eiró recorda aceitação dos pais à homossexualidade e casamento com ex-mulher
Nuno Eiró emociona ao contar como os pais o apoiaram incondicionalmente e relembra o casamento amigável com Cláudia, no Dois às 10.
Imagina só: num tempo em que falar de homossexualidade era quase um tabu, um pai leva o filho a lanchar para lhe dizer, de forma direta e terna, que o ama “de qualquer forma”.
Pois foi assim que Nuno Eiró, o carismático apresentador dos Diários da Casa dos Segredos, viveu a revelação da sua orientação sexual aos pais.
Nesta entrevista ao programa Dois às 10, na passada quinta-feira, ele não se limitou a partilhar a sua recente oficialização de relação com Paulo Veiga de Oliveira nas redes sociais, foi pedido para imaginar como seria se os pais, já falecidos, o tivessem conhecido.
Tudo começou com um lamento genuíno de Nuno Eiró, os pais nunca chegaram a conhecer Paulo, o homem que agora ilumina os seus dias. Desafiado por Cristina Ferreira, ele abriu o livro da juventude, numa era em que “não se interrogava muito, não se falava muito”, como ele próprio recorda. Os pais sabiam, claro, “eles sabiam, claro que sabiam”, mas o que mais o marcou foi a reação do pai.
Ainda cedo na vida, num gesto que hoje soa quase poético, o progenitor convidou-o para um lanche, longe das paredes de casa, num “espaço neutro”, como Nuno descreve. “Levou-me a lanchar, estava no primeiro ano da faculdade, para sairmos de casa, para ser um espaço neutro, acho eu.” E ali, entre goles de café e olhares cúmplices, veio a bomba, “Não dizendo, o meu pai acabou por me dizer ainda muito cedo que me amaria de qualquer forma, isto há muitos anos, era uma pedra no charco, eu próprio fiquei a olhar para o meu pai de outra forma.” Nuno confessa que ficou a vê-lo “de outra forma”, como se aquele momento tivesse reescrito o manual das relações pai-filho. Era uma “pedra no charco”, sim, mas de um tipo que ondula com carinho, não com ondas de rejeição.
E a mãe? Ah, essa era mestra na arte de aceitar sem interrogar, e ele pinta-a num quadro familiar acolhedor, onde os namorados dele entravam pela porta grande, literalmente. “A minha mãe, inclusivamente, conheceu outros namorados que eu tive e passávamos Natais juntos.”
Nada de perguntas incómodas, só uma aceitação fluida que “facilitou para todos”, como ele resume com um sorriso na voz, “Agora, foi aquela coisa mais fácil que é: não faz perguntas, só aceita e facilitou para todos.” Num Portugal de gerações passadas, onde o silêncio sobre estes temas era norma, esta família escolheu o abraço prático.
Mas a conversa não parou na família. Nuno também revisitou um capítulo mais inesperado: o casamento com Cláudia, a ex-mulher, que durou de 2001 a 2004. Relembrando uma entrevista anterior a Maria Cerqueira Gomes, em 2021, ele explica que tudo começou na amizade, “Eu e a Cláudia já éramos amigos antes de casarmos. A certa altura, a coisa aconteceu. Apaixonei-me pela Cláudia e fomos os primeiros do nosso grupo de amigos a casar.”
Foi um amor genuíno, daqueles que florescem no quotidiano, mas que, como tantos, seguiu rumos diferentes. O fim? Amigável, sem culpas ou acusações. “Quando a relação acabou, não foi por causa de escolhas ou de orientação sexual. Ninguém se chateou. Simplesmente aconteceram duas pessoas terem seguido rumos diferentes ao ponto de já não fazer sentido continuar.”