Pedro Chagas Freitas faz confissão brutal em entrevista internacional: “Os livros chegam sempre tarde”
Numa conversa intimista, o autor falou das suas referências (de Saramago a Lobo Antunes) e assumiu que a escrita é a sua única forma de "não desistir completamente das pessoas"
Pedro Chagas Freitas concedeu uma entrevista profunda à revista literária albanesa Letrare, onde despiu a sua escrita de artifícios e falou sobre as suas motivações mais íntimas.
O autor do bestseller “Prometo Falhar” revelou que a literatura deixou há muito de ser apenas um desejo para se tornar uma questão de sobrevivência emocional. “A escrita deixou de ser um desejo quando percebi que não escrever estava a transformar-me em alguém mais difícil, mais seco… A necessidade é fisiológica”, explicou, acrescentando uma frase marcante: “Escrevo para não me tornar alguém de quem não gostaria”.
Confrontado com o sucesso de “Prometo Falhar”, Pedro Chagas Freitas recusou a ideia de que a obra seja um manual sobre o amor. Pelo contrário, o escritor define-o como um ato de “rendição”. “Foi escrito no momento em que aceitei que não o compreendia [o amor]… Escrevi-o como alguém que aceita a derrota antes de jogar. Não havia estratégia, apenas exposição”, confessou. Para o autor, aquele livro permanece hoje como um “registo da fragilidade mais extrema”, um local onde parou finalmente de se proteger.
Na mesma conversa, Chagas Freitas abordou o seu estilo fragmentado, que define não como estética, mas como uma “limitação honesta” de quem sente a vida em pedaços, e as suas influências literárias, citando nomes como Saramago, Lobo Antunes ou Camus, autores que escreveram “sem pedir licença à dor”. Sobre o tempo, o grande antagonista da sua obra, deixou uma reflexão final melancólica: “Os livros chegam sempre tarde. Escrevo para entender o que já perdi… Os livros são tentativas de fazer as pazes com o atraso”.