Pedro Chagas Freitas reage! “Não precisamos de gostar dos Anjos. Mas precisamos de parar de os linchar.”
Crónica poderosa de Pedro Chagas Freitas apela à empatia num país onde a sátira às vezes esquece que há pessoas do outro lado.

Pedro Chagas Freitas numa altura de sillyseason sempre nos dá conteúdo diário e bem que agradecemos.
Agora fala nos ANJOS, uma dupla que está em guerra com a Joana Marques e está novamente no centro das atenções após um concerto em que estavam apenas umas dezenas de pessoas. Talvez explicado pelo calor que se fazia sentir.
Nas redes sociais, o escritor começa por dizer, Todos estivemos — no recreio, na sala de aula, na empresa — onde eles estiveram: a sentir que nos gozam, que nos desvalorizam, que fazem troça do que é, para nós, uma vida inteira de trabalho. Ninguém gosta que aquilo que levámos anos a construir com unhas, suor e melodia se torne num sketch de um minuto e meio. Quando se está magoado, o ridículo torna-se sagrado.”
PUBLICAÇÃO COMPLETA
O que os Anjos fizeram — processar quem os magoou — não é nobre, não é bonito. Não deixa de ser humano. É legítimo no código dos ofendidos. A raiva é uma linguagem. Nesse idioma, a vingança é coerente, é o remédio fácil. Todos já engolimos esse remédio. O que estão a fazer-lhes agora é outra coisa: é bullying que vem dos polegares, é a matilha a farejar sangue, a decidir que está autorizada a devorar. Não querem defender a liberdade de expressão; querem sentir-se melhores quando destroem. Rir de quem caiu é, para muitos, a única forma de se sentirem de pé.
O Sérgio e o Nelson parecem boas pessoas, de verdade. Temos de voltar a vê-los assim, é urgente voltar a posicioná-los assim: como pessoas que se sentiram feridas, que tentaram reagir como souberam, ou como não souberam controlar. Reagiram ao desconforto de serem postos em causa, levaram-se demasiado a sério, não tiveram capacidade de se rir de si mesmos. Quantas vezes também fomos assim na nossa vida? A empatia, muito citada e pouco praticada, serve para saber que todos temos os nossos ridículos. Do ridículo à mágoa vai um passo curto. Não precisamos de gostar do que fizeram. Também não precisamos de linchá-los. Isso não tem piada nenhuma. É a maldade a fazer de conta que é o karma.