“Tu és do Big Brother, não podes estar aqui” — Marta Gil expõe bastidores do preconceito na cultura portuguesa
A atriz lamenta o preconceito dentro do meio artístico e compara Portugal ao Brasil, onde diz que há mais abertura.

Marta Gil na Rádio Observador acaba por admitir que a sua participação no Big Brother trouxe-lhe dissabores, ou seja, perder trabalhos.
Acabou por ser questionada, “estamos aqui a falar de escolhas, de algum preconceito também. Vamos falar do Big Brother, dessa experiência que aconteceu na tua vida, e que escolhas e preconceitos está aqui também ligado, porque tu entraste num formato de famosos, com outras pessoas também igualmente conhecidas pelo público. A experiência em si, tu já falaste muitas vezes sobre ela, tu chegaste até à final, ficaste no quarto lugar, ficaste muito chateada com isso na altura. Enquanto atriz, esta experiência, porque existe muito este preconceito.”
Marta Gil passou pelos estúdios da Rádio Observador para uma conversa descontraída, onde falou abertamente sobre a sua experiência enquanto atriz e figura pública que também passou por reality shows [e mais tarde como comentadora]. Sem papas na língua, reconheceu a existência de preconceito [sobretudo dentro do meio artístico] em relação a quem decide entrar em formatos como o Big Brother. Para ela, esse julgamento não vem tanto do público, mas sim de colegas da classe artística, que ainda torcem o nariz a quem transita entre mundos aparentemente opostos.
Explicou que, quando entrou no Big Brother, já tinha feito parte do elenco de ‘Festa é Festa’, “eu pensei, não tenho nada a perder. Já tinha estado no ‘Festa é Festa’ antes, e depois no Big Brother, e a primeira postagem tinha saído, e por causa disso é que me convidaram para entrar no Big Brother”. Entrou de cabeça erguida, sem receios e com a noção clara de que não tinha nada a perder. Sabia que a passagem por um programa como o Big Brother não garantiria fama eterna, porque tudo é muito rápido e volátil – hoje é um concorrente, amanhã já ninguém se lembra.
A resposta do público surpreendeu-a pela positiva. Conta que até hoje há quem a aborde na rua com carinho, lembrando-se da sua participação no programa, mas reconhecendo o seu percurso como atriz. Para Marta, há uma distinção clara que as pessoas fazem questão de frisar: que ela não “veio do Big Brother”, mas sim da representação. Isso, para ela, é revelador; mostra que o público tem memória e sabe distinguir “Eu sei que a Marta é atriz. Eu sei que a Marta é atriz”.
Fez ainda uma comparação com o Brasil, onde acredita que esta barreira entre entretenimento e representação está mais diluída, e onde o preconceito contra quem cruza fronteiras entre géneros e formatos é bem menor. Por cá, admite, o caminho ainda é mais rígido e os rótulos mais difíceis de sacudir, “Eu já me disseram uma vez, eu não vou dizer o nome da revista, eu queria muito ter feito uma produção para uma revista maior, alternativa, e por isso mesmo é que eu queria fazer essa produção para essa revista alternativa, para mostrar um outro lado meu, porque enquanto atriz tu podes dar muita coisa em fotografia, e eu adoro fotografia. Tu és do Big Brother, eu não posso pôr uma pessoa do Big Brother aqui.”