Cristina Ferreira reage à ida de Ronaldo à Casa Branca e esclarece polémica
Cristina Ferreira comenta a visita de Ronaldo à Casa Branca e revive o caso Mayorga com explicações claras sobre o “processo” nos EUA.
Esta quinta-feira, 20 de novembro, o “Dois às 10” voltou a aquecer a manhã da TVI. Cristina Ferreira e Cláudio Ramos sentaram-se à mesa com os habituais comentadores, Cinha Jardim, Gonçalo Quinaz e Adriano Silva Martins, para mais uma “Conversas de Café”.
E, claro, o tema do dia não podia fugir: a visita de Cristiano Ronaldo à Casa Branca e o aperto de mão (e abraço) com Donald Trump. Depois de ouvir as opiniões da malta, Cristina não se ficou e entrou direto ao assunto, com aquela franqueza que já todos conhecemos: “O Cristiano Ronaldo teve um processo gigante nos Estados Unidos que o proibiu de entrar nos Estados Unidos durante muito tempo. O Mundial de 2026 vai ser nos Estados Unidos, ele quer lá chegar em braços para a sua despedida do Mundial, isto é toda uma estratégia concertada também com o príncipe da Arábia, que tem mais poder do que ele junto dos Estados Unidos, para que as coisas funcionem. É só isto”, atirou a apresentadora, sem papas na língua.
Mais tarde, quando Adriano Silva Martins confessou que o que verdadeiramente o “incomoda” é ver CR7 como “cara de um regime totalitário”, Cristina voltou ao ataque, mas num registo mais suave, “Eu não gosto de uma frase que ele disse recentemente que é: ‘eu sou saudita’. Porque acho que não tem necessidade disso”, desabafou.
E pronto, ficou o recado. Num programa que costuma ser leve e divertido, o tema Ronaldo-Trump acabou por trazer um bocadinho de política e estratégia à mesa do café. Como sempre, Cristina não virou a cara à luta, disse o que pensa, com calma, mas sem rodeios.
PROCESSO DE CRISTIANO RONALDO NOS EUA
O “processo gigante nos Estados Unidos” a que Cristina Ferreira se referiu no “Dois às 10” é a acusação de violação feita por Kathryn Mayorga, uma antiga modelo e professora norte-americana, contra Cristiano Ronaldo.
Aconteceu tudo em 2009, em Las Vegas, e arrastou-se durante anos. Vou explicar ponto por ponto, de forma clara.
O que aconteceu em 2009?
Em junho de 2009, Ronaldo, então com 24 anos, estava de férias em Las Vegas depois de se transferir do Manchester United para o Real Madrid. Conheceu Kathryn Mayorga (na altura com 25 anos) numa discoteca do hotel Palms Casino Resort. Segundo Mayorga, foram para a suite dele com mais pessoas, e lá, alegadamente, Ronaldo violou-a num quarto. Ela denunciou à polícia no próprio dia, fez exames médicos, mas não identificou o agressor na altura (chamou-lhe apenas “atleta famoso”). Ronaldo sempre negou veementemente, dizendo que o encontro foi consensual.
O acordo de confidencialidade de 2010
Em 2010, as duas partes chegaram a um acordo extrajudicial: Ronaldo pagou 375 mil dólares (cerca de 340 mil euros na altura) a Mayorga em troca de silêncio total e de ela não prosseguir com queixas. Assinaram um acordo de confidencialidade. Na altura, parecia tudo resolvido.
2017-2018: o caso explode de novo
Tudo mudou com o movimento #MeToo e com as fugas de informação do Football Leaks. A revista alemã Der Spiegel publicou documentos confidenciais (obtidos ilegalmente, segundo os tribunais) que falavam do caso. Mayorga decidiu romper o silêncio, contratou um novo advogado (Leslie Mark Stovall) e, em 2018, apresentou uma queixa cível pedindo milhões em indemnização, alegando que tinha sido pressionada a assinar o acordo de 2010 e que sofria de problemas psicológicos na altura.
O que aconteceu no processo criminal?
A polícia de Las Vegas reabriu a investigação em 2018, mas em julho de 2019 o procurador de Clark County anunciou que não havia provas suficientes para acusar Ronaldo criminalmente. Caso encerrado a nível penal, nunca houve acusação formal nem julgamento.
E o processo cível (dinheiro)?
Aqui é que as coisas se complicaram:
- – Em junho de 2022, a juíza Jennifer Dorsey (Las Vegas) arquivou o processo com preconceito (ou seja, não pode ser reaberto) porque o advogado de Mayorga usou documentos roubados e confidenciais (as comunicações privadas entre Ronaldo e os seus advogados). A juíza considerou isso “má-fé” grave.
- Em 2023, o advogado de Mayorga foi condenado a pagar 335 mil dólares dos custos judiciais de Ronaldo.
- Em novembro de 2023, um tribunal de recurso de São Francisco confirmou tudo: rejeitou o apelo de Mayorga e manteve o arquivamento definitivo.
E a tal “proibição de entrar nos EUA” que a Cristina mencionou?
Aqui é importante esclarecer: nunca existiu proibição legal oficial. Ronaldo nunca foi condenado, nunca teve visto negado nem ordem judicial que o impedisse de entrar.
O que aconteceu foi uma decisão estratégica dos advogados dele: enquanto o processo cível estava ativo (2018-2022/23), entrar nos EUA poderia significar ser intimado, deposto ou detido para interrogatório – um risco enorme de imagem e legal. Por isso, Ronaldo simplesmente evitou o país todo. Clubes como a Juventus até mudaram tournées de pré-época para não o expor.
Desde que o caso foi definitivamente arquivado em 2023, o caminho ficou livre. Prova disso? Esta semana (18 de novembro de 2025) Ronaldo esteve na Casa Branca, em Washington, convidado para um jantar com Donald Trump e o príncipe herdeiro saudita, a primeira vez em solo norte-americano desde 2014/2016, dependendo das fontes.
Resumindo: Ronaldo saiu completamente ilibado tanto a nível criminal como cível. Pagou um acordo em 2010 para evitar chatices, mas nunca foi considerado culpado. O caso serviu para mostrar como documentos pirateados podem complicar tudo, mas os tribunais acabaram por dar razão à defesa do português.
