Joana Marques reage na SIC: “Confundir humor com bullying é um desrespeito para quem sofre a sério”
A humorista fala pela primeira vez após o tribunal: “Confundir humor com bullying é um desrespeito para quem sofre a sério.”

No Jornal da Noite da SIC de ontem, Joana Marques esteve a dar as primeiras declarações, após a sentença no caso Anjos.
“Eu penso sempre em quem está do outro lado”, começou por sublinhar. “Quando estou a fazer uma coisa sobre alguém, estou automaticamente a pensar nessa pessoa, a ouvi-la durante muitas horas, a analisá-la. Não consigo é ver isso como uma agressão, e é se calhar isso que agora se tenta muito equiparar.”
A humorista voltou a comentar a forma como o caso foi apresentado em tribunal, onde se discutiu até se o seu trabalho seria ou não “bullying”. Para Joana, essa comparação é injusta e perigosa. “A conversa do bullying foi muito falada durante o tribunal. Muitas testemunhas fizeram questão de dizer que eu não fazia humor, que fazia bullying. Acho isso um desrespeito para quem sofre bullying a sério. Era bom distinguirmos as coisas.”
Sobre o potencial do humor para ferir sensibilidades, Joana Marques foi pragmática: “Não acredito que o humor cause dano. Pode causar desgosto, tristeza, claro. Mas não é um atentado à dignidade de ninguém.”
Referindo-se a um trecho da sentença, a humorista citou com ironia: “Pode o humor ofender? Depende da sensibilidade de cada um”, leu, lembrando as palavras da juíza. “No fundo, é quando nos tocam num ponto que nos dói muito. Mas isso não transforma uma piada num crime.”
A propósito dos próprios visados, Joana não fugiu à metáfora: “Senti que neste processo houve uma tentativa de parar o vento com as mãos, ou, neste caso, de parar a internet. Queriam que o momento que não lhes correu bem fosse apagado. Mas isso é impossível.”
A humorista também reconhece que, tendo exposição pública, está sujeita ao mesmo escrutínio que impõe aos outros: “Somos todos alvo de humor. Quem quer as coisas boas da exposição pública tem de aceitar o reverso da medalha.”
Questionada sobre os limites do humor, Joana foi taxativa: “Não pode haver temas proibidos. Tenho o meu gosto, a minha sensibilidade e o meu bom senso, mas isso não pode ser regra para os outros. Se começamos a ter uma entidade que define o que pode ou não ser dito, voltamos aos tempos da censura, e isso não agradaria a ninguém.”
No panorama internacional, de Jimmy Kimmel nos EUA ao caso brasileiro de Danilo Gentili, o humor vive um tempo de escrutínio apertado. Joana reconhece o perigo, mas acredita na força do público: “Claro que há risco de cancelamento. Mas enquanto houver pessoas que gostam de humor, que querem rir-se, isso é a maior força contra o cancelamento. Quem pede o cancelamento faz barulho, mas não são mais do que os que veem o humor como algo saudável.”
Sobre o desfecho em tribunal, Joana foi clara: “Ganharam todas as pessoas que gostam de viver numa sociedade onde se pode exprimir livremente a opinião. Os limites do que pode ser dito já estão definidos na lei há muito tempo, e os humoristas cumprem-nos.”