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“O círculo da heroína não existe”: a solidão e a redenção de Lena d’Água

Num testemunho cru e terno, a cantora fala da luta contra o vício, da força da família e da beleza de voltar a ser “uma pessoa qualquer”.

Em entrevista a Daniel Oliveira, Lena d’Água fez uma revelação marcante sobre o período em que enfrentou a dependência de drogas.

Questionada pelo apresentador, a cantora respondeu de forma direta: “Fumei o meu apartamento.” Lena contou que chegou a vender a própria casa para sustentar o vício, mas destacou que conseguiu recuperar-se e retomar o controlo da sua vida. Mais tarde, afirmou, pôde dedicar-se aos pais, que se encontravam doentes na altura.

“Vendi o apartamento para pagar as coisas.” Sem dramatismos, Lena conta como o vício lhe consumiu não só bens, mas também tempo e energia. “Depois o meu pai estava muito doente, mas livrei-me daquilo a tempo de o acompanhar. Ainda foram dois anos limpa, completamente disponível para tratar dos meus pais.”

A cantora fala desse período como uma travessia. Após a morte do pai, voltou ao bairro para cuidar da mãe. “Mal eu sabia que ela parecia estar à minha espera para também se ir embora.” Em 2007, vendeu a casa de família e decidiu procurar refúgio “longe, para o norte — porque não queria ter uma ponte entre mim e a minha filha”.

Sobre o consumo de heroína, Lena é direta: “O círculo da heroína não existe. És tu e o dealer. Não há mais ninguém. Quase total solidão.” O corte, garante, “é de um dia para o outro”. O que demora é o resto. “O difícil é recuperar a tua vida. Voltar a fazer as coisas que deixaste de fazer, ir ao cinema com uma amiga, jantar com um amigo…”

As dores físicas, diz, “passam numa semana”. O resto é trabalho emocional e paciência. “Fui para o Estado, para uma desintoxicação simples. Como uma pessoa qualquer. Eu era uma pessoa qualquer.”

Durante o processo, não sentiu vergonha nem olhares de reprovação. “Éramos cinco ou seis naquela casa em Coimbra. Estávamos todos na mesma situação: limpar o corpo daquela porcaria e seguir em frente.”

A filha e os pais foram o seu pilar. “Contei logo aos meus pais. Eles souberam sempre, de princípio ao fim. Claro que sofreram, mas nunca ralharam comigo. O dinheiro era meu, e o que fiz foi o que escolhi fazer da minha vida.”

Quando Daniel Oliveira lhe pergunta que ajuda se pode dar a alguém preso nessa espiral, Lena responde com simplicidade: “É continuar a amar. E não dar dinheiro.”

Hoje, a artista fala com a leveza de quem já se reconciliou consigo própria. “Não tenho vergonha de nada. Às vezes, de ser um bocado brutamonte, sim. Mas peço desculpa. Senão, não fico bem.”

Sobre o renascimento artístico dos últimos anos, Lena sorri: “Está tudo contente. Eles sabem que eu sempre fui assim, um bocado fora da caixa. Como dizia o meu pai, a artista. E isso justificava tudo.”

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